quinta-feira, 24 de julho de 2014

A Mão e a Luva - Machado de Assis




A Mão e a Luva é um livro sobre a ambição. 

Sobre o caráter humano. 
Sobre pessoas que combinam e não.







Machado de Assis é conhecido pelo talento em retratar a sociedade e os costumes da sua época, assim como esmiuçar o componente humano. Ele analisa de forma sagaz as personalidades que cria e muita das vezes ironiza seus dilemas e agruras. Ler Machado, não deixa nunca de ser um mergulho no próprio ser humano em suas contradições, ambições, afetos, defeitos e qualidades. 

Ainda assim, quem costuma ler esse autor, sabe que suas narrativas não são muito dinâmicas. Seus livros giram em volta de um tema e sobre como os personagem reagem à ele. Não ha muita ação, o tempo parece passar devagar. Os personagens não são tantos, que dê para se perder nos nomes e nem tão poucos que tornem a coisa sem graça.


A Mão e a Luva, segundo romance do autor,publicado em 1874, trata basicamente do destino amoroso de Guiomar. Moça de belo dotes físico e posição social elevada, ela é cobiçada por três pretendentes: Jorge, Estevão e José Luís. A moça que possui uma personalidade racional, melindrosa, reservada e um tanto hostil, embora diplomática, refuta os dois primeiros pretendentes. O terceiro só aparece como pretendente um tempo depois. Estevão é o apaixonado, sofre de amores pela mulher desde tempos remotos. Jorge, é o oportunista vê na beleza da moça e no seu dote uma possibilidade de manter sua posição e prestígio social. José Luís é um advogado ainda mais racional que Guiomar, observador e bastante inteligente. O impasse para Guiomar é que um casamento com Jorge traria imensa alegria à sua tia, a baronesa, pelo qual Guiomar tem muito apreço. Mas ela não gosta do rapaz. E sobre isso a história se desenvolve. A curiosidade está em querer saber por quem Guiomar irá se apaixonar. Se ela fará a vontade da tia em detrimento à sua. E finalmente, com quem casará.


Depois de tudo isso, é engraçado eu admitir que não sou exatamente uma fã do autor. Realmente não sou, mas posso apontar cinco traços em seus livros que cativam:

1) A beleza da escrita clássica da língua portuguesa: frases como

“Estêvão, que adorava todos os roupões, fossem ou não meditativos, deu as graças à Providência, pela boa fortuna que lhe deparava, e afiou os olhos para contemplar aquela graciosa madrugadora.”   

“Não havia mister pôr de permeio um espírito importuno e desconsolador.” 

"Esta cingiu-lhe a cabeça com as mãos, e assim esteve longo tempo sem falar, mas eloqüente naquela mudez, em que a palavra pertencia ao coração."

Acho de uma riqueza fantástica, apesar de ninguém falar ou escrever mais assim. Se você não gosta desse tipo de escrita, então já tem 50% de chances de não gostar do livro. Se gosta já é um ponto à favor.

2) O talento para trabalhar as palavras: explorando metáforas e demais figuras de linguagens, Machado faz com que consigamos “visualizar” sentimentos e atmosferas. Sua capacidade descritiva para coisas intangíveis é brilhante. E deve-se admitir o quanto é difícil traduzir sentimentos em palavras.

3) A ironia: que nos arranca algumas gargalhadas durante a leitura. Ele zomba do dilema dos seus personagens com a educação de um gentleman. Se você estiver desatento, nem percebe o quanto ele pode ser sádico. É o beijinho-no-ombro clássico.

4) O eterno enigma das suas histórias: Ok, ele não é nenhuma Agatha Christie. Mas consegue quase sempre implantar a dúvida sobre como será o desfecho da história. E ele sabe nos prender nela. Porque as novelas do Machado, são fieis retratos do cotidiano, e como não se sentir curioso com o que a vida trará? Qual será a sorte dos personagens? O autor optará por um desfecho mais realista ou pelo final feliz? E assim somos levados até o final do livro.

5) A imparcialidade: Esse é um dos traços que mais gosto. Ele não costuma incitar a nossa preferência por nenhum personagem. Não há uma tentativa forçosa de convencimento. Não existe herói e vilão. Então a preferência se dá geralmente pela afinidade pessoal do leitor. Em contraposição, vocês já repararam como boa parte dos best-seller são narrado em primeira pessoa? E como isso dificilmente nos deixa margem para que afeiçoemos com outros personagens, que não o principal? Os livros do Machado por sua vez, estando em 3ª pessoa nos deixam mais abertos nessa predileção. Conseguimos considerar o ponto de vista de todos. E acho que isso nos ensina a sermos menos individualistas.

Posso dizer que o final desse livro é bem interessante! 

E aí, quem ficou interessado?


Um comentário:

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