quarta-feira, 25 de junho de 2014

Readers Block e a aversão às redes socias


É algo pelo qual jamais imaginei passar: readers block. É quando se fica incapacitado de ler coisa alguma.Você inicia a leitura de um livro e não chega nem na metade. E para uma pessoa como eu, isso é triste, é quase uma tragédia! rs Afinal esse blog existe para celebrar a Literatura! Porque os livros sempre foram parte de quem sou, da minha personalidade. Então porque não consigo mais me conectar com eles? Qual é o problema? Será que apenas não encontrei o livro certo para o momento da minha vida? (Mas santo Deus, eu lia até bula de remédio). Tenho uma leve impressão de que o excesso de internet tem alguma culpa nisso. Sabe como é, muitas horas gastas no facebook, whatsapp, blogs, tumblrs, pinterests e sites variados.

As vantagens de estar conectado todo mundo já conhece. Mas me indago sobre as desvantagens. Porque tudo na vida tem um lado bom e um lado ruim. Para mim a maior desvantagem do mundo virtual é que ele nos apresenta uma versão curta, abreviada, sucinta e de certa forma preguiçosa das notícias, pessoas, opiniões e sentimentos. E em seguida eu rebato à mim mesma: “Mas Ariana, se é justamente através da internet que passamos a conhecer mais pessoas, lugares, opiniões, etc e tal?! Como você pode negar isso? Você está sendo retrógrada e conservadora.” E eu mesma me respondo: “Calma, Ariana. Não é nada disso. A verdade é que nós somos apresentados a muitas coisas através da internet, então temos a leve sensação de que as estamos experimentando, mas de fato não estamos. O que temos é uma provinha superficial sobre um bilhão de coisas e pessoas, mas não estamos conhecendo profundamente essas coisas e pessoas. Não é de todo mal ter uma “provinha” do mundo, o que faz mal é começar a enxergar o virtual como algo real e vice-versa. Sabe como é: virtualizar a realidade e dar sentido de realidade ao que é virtual.” Fim da digressão.


Não sei se a geração que nasceu teclando conseguirá perceber essa diferença, mas para mim (que fui ter o primeiro computador com 17 anos) é óbvia e ululante: o significado da palavra experiência.
Antes as pessoas percebiam mais profundamente o mundo ao seu redor simplesmente porque não havia outro mundo com o qual comparar (obviamente, que portanto também eramos mais limitados e mal-informados). Mas, de uma forma ou de outra, as pessoas acabavam construindo suas conclusões a partir de sua própria vivência, sem tantas interferências externas. Hoje, bombardeados com informações por todos os lados, nos tornamos uma miscelânea de opiniões e experiências alheias e me parece ao mesmo tempo que de opiniões e experiências nenhuma. Será que a humanidade se aprimorou de maneira proporcional ao nível de informação que recebeu? Independente da resposta, é impossível negar que é preciso viver a própria vida (no mundo real) e tirar as próprias conclusões a partir do que se experimentou. Tá, gente eu sei que o ser humano continua vivendo, o que quero dizer é: Quanto do seu olhar já não está programado para o que vai encontrar? Quanto da nossa opinião sobre a vida é realmente nossa? O excesso de informação as vezes nos deixa preparados demais para o que vamos encontrar. E isso rouba a nossa margem de percepção pessoal. É como quando você passeia Roma todinha pelo street view, e quando finalmente tem a possibilidade de viajar para lá, já reconhece as ruas como se morasse lá. Cadê a surpresa, cara? (comparação esdrúxula e absurda é comigo mesma).

Além disso, estamos nos tornando multifacetados e bem informados, mas preguiçosos e pouco profundos. Às vezes me pergunto porque certas coisas boas jamais podem andar juntas. Veja bem, antes a galera não tinha a quantidade de informação e capacidade de se comunicar que tem hoje, mas em compensação tinham muito mais vitalidade. Olho para os meus pais e vejo que eles (ainda) esbanjam energia. São mais incansáveis do que eu. Mas a nossa geração-polegar, está muito cansada para: conversar, sair, criar, viajar, (e até) amar intensamente! Não é brincadeira não, tem muito moleque por aí que prefere ficar jogando vídeo-game dentro de casa do que se arriscando a azarar as meninas. As fotos das festas que postamos parecem muito mais divertidas do que as festas em si. A sensação de solidão que tão frequentemente experimentamos não condiz com os 500 amigos no facebook. Então o que está havendo? Viver dar trabalho? Ser feliz cansa? Não, o que cansa é tentar alcançar esse padrão de “felicidade” a que somos expostos. Tentar ser mais bonita, mais feliz, mais rica, mais aventureira do que a coleguinha do lado. Se torna maçante, penoso e frustrante. Então nós fingimos : ) E então tcha-raaamm, bem-vindos à sociedade do simulacro.



E eu me pergunto: o que está acontecendo conosco? Como as relações e os seres humanos vão se desenvolver daqui para a frente? Só para deixar claro que não acredito em distopias à la Aldous Huxley. Não acredito que o mundo está indo para o buraco e aquele blá, blá, blá negativo sobre o futuro e sobre o mal que a tecnologia nos trouxe. Mas fico realmente curiosa em saber como a humanidade vai se safar dessa. Ou não vai. Será que de fato teremos que abrir mão de parte da nossa humanidade para ganharmos outras coisas?

Eu acho que é isso. Esse, dentro outros motivos, explica meu readers block. Também estou me desacostumando com uma visão mais profunda da vida! : ( Tanto fizeram por me inserir na era da informação, que eis me aqui: bloqueada e curtindo meu simulacro! Malditos sejam! Logo eu, que me orgulhava por entoar a irônica frase de Manoel de Barros: “Não sou da informática, sou da invencionática”, agora me encontro não inventando nada, completamente sem criatividade e emoção, vivendo através da tela do pc. Me medindo pela medida dos outros. Em pensar que eu me sentia culpada por viver tão alheia do mundo. O que esses últimos meses de passeio pela Terra me fizeram perceber é que o Universo é muito mais rico dentro da minha própria cabeça.

Então já decidi, farei uma faxina total: desinstalarei o whatsapp e vou dar um tempo das redes sociais em geral. Vou desintoxicar! Já até sei que vai rolar aquela abstinência louca. Mas tenho fé na cura. Esse é um bye-bye povo. Vocês não vão mais me encontrar pelas redes da vida (obviamente vou continuar blogando). Se quiser me achar, procurem-me na rede de casa. Provavelmente estarei deitada nela, lendo um bom livro.






2 comentários:

  1. Eu quando tinha uns 14 anos brincava na rua...hoje em dia as crianças brincam no pc sem aquela coisa legal que se tinha antigamente. Internet é boa quando não perdemos o tempo inteiro nela apenas passando páginas e sem criar nada de bom. Vejo as pessoas mais preocupadas em postar algo correndo no face e se aproveita pouco as coisas boas da vida....Você faz o certo em ser aquela pessoa conectada ao mundo real e na rede da casa.

    bjs

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  2. Hoje, os casais jantam com seus celulares no restaurante.

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