quarta-feira, 6 de março de 2013

UFA! As meninas não podem mijar na rua....




Se você ainda não sabe, a Prefeitura do Rio de Janeiro inaugurou no dia 26 de fevereiro de 2013 um novo modelo de mictório público. A idéia foi batizada chistosamente de UFA! (Unidade Fornecedora de Alívio). Lá vamos nós fazer aquela análise básica da questão ....partindo das premissas:



1º O esgoto e a produção de lixo nas cidades está diretamente correlacionada à saúde da população. Os banheiros públicos nesse contexto configuram-se como uma necessidade básica para a higiene e o saneamento básico de qualquer cidade grande, em que o fluxo e o movimento de pessoas é muito intenso.

2º O Rio de Janeiro é a segunda maior cidade do país economicamente falando e um dos maiores destinos turísticos do país, com uma população gigantesca para suas diminutas dimensões territoriais. Os impostos que pagamos aqui são abusivos, e viver nessa cidade se torna cada dia mais caro.

3º Todos sabemos que o ser humano tem necessidades fisiológicas. Considerando que a modernidade exige que passemos a maior parte do tempo em movimento - habitando mais a cidade do que nossas casas - transfere-se a questão das necessidades fisiológicas também para o âmbito público.



Logo, o resultado dessa equação é óbvio: cidades cada vez mais populosas geram maior fluxo de pessoas nas ruas, logo mais pessoas precisam de banheiros públicos.

Portanto, por mais que esse não seja um assunto atrativo, necessitamos discuti-lo, pois os banheiros públicos constituem parte do mobiliário urbano. E quanto mais completo se torna esse mobiliário, melhor é a qualidade de vida da população e a recepção e fruição dos turistas.

O fato da Prefeitura começar a pensar sobre isso é ótimo. Mas nós cariocas sabemos que é comum aqui na cidade maravilhosa, tudo ser concebido de maneira simplista e descuidada - de forma a cumprir tabela ao invés de atingir o objetivo. A começar pelo próprio nome do projeto (UFA!- Unidade fornecedora de alívio) subtende-se que o assunto não é levado à sério. Mictório a céu aberto, sem porta e pia, isso não pode mesmo ser sério. Gastar R$ 19 mil nessa empreitada, menos ainda. A desculpa velada que fica bem clara é de que o carioca é um vândalo, não pode ver nada bonito que estraga, isso fica claro na fala de Marcus Belchior (secretário municipal de Conservação e Serviços Públicos):

"Escolhemos a Central do Brasil para a fase de testes, pois há pouca utilização do espaço público. Também poderemos impedir ações delituosas, já que as pessoas podem ser vistas. A principal dificuldade relativa a banheiros públicos é a questão da operação. Esse é um modelo que deu certo na Europa e nos Estados Unidos. Se for bem avaliado, apresentaremos um projeto executivo para toda a cidade”.


Ao meu ver essa justificativa é fraca e simplista, pois são vários os casos de ambientes que por serem bem-construídos e conservados, instigaram a noção de pertencimento do espaço e, portanto o cuidado por parte da população. Também faz parecer que a cidade do Rio é tão pobre que não pode investir em um projeto um pouco melhor.

Em terceiro lugar, podemos inquirir que a unidade de alivio busca “aliviar” apenas a parcela masculina da população, já que nós mulheres continuamos desguarnecidas nesse aspecto. Ainda segundo Marcus Belchior  esse mérito se justifica pelo demérito dos homens:

"Banheiros públicos são uma necessidade da cidade, e verificamos que nessa história os homens são mais mal educados. – disse ele.

Ou seja, os homens vão ganhar um banheiro só para eles, porque são muito mal-educados. Mas peraí, isso não vai justamente de encontro a própria desculpa velada do Município para não instalar um equipamento mais sofisticado? Então, porque não implantar banheiros ultra-modernos apenas para as mulheres, já que elas são tão educadas a ponto de manter os mesmos intactos?

Enfim, vamos fingir que ninguém sabe que as mulheres não urinam nas ruas por mera “desvantagem biológica”. Os homens urinam nas ruas porque podem fazer isso sem expor excessivamente o seu corpo, as mulheres não. Prova disso, é que são muitos os casos de mulheres que solicitam as amigas que façam “cabaninhas” ou “bloqueios” com o corpo para poderem urinar na rua sem se sentirem expostas. Não se trata apenas da falta de educação, por que muitas vezes é uma questão de extrema necessidade. A verdade é que durante o Carnaval, por exemplo, não existem banheiros suficientes para a população! Prova disso é que muitos bares e restaurantes cobram R$1,00 as vezes até R$ 2,00 pela utilização de banheiros (que as vezes nem estão limpos, é bom lembrar).
Ela tá pensando como vai fazer pra mijar... ou não..

Ou seja, nós mulheres estamos duplamente prejudicadas nesse sentido. Fazer banheiros baratos para as mulheres se torna mais difícil, então eles excluem metade da população do projeto e brilhantemente criam o UFA! E eu penso: nossa! É muito fácil ser inteligente e inovador assim.

E para não pensarem que falo sem experiência própria vou logo admitindo que sou uma bexiga solta. E pior: adoro uma cervejinha. Isso torna festividades públicas (como o Carnaval) em um verdadeiro martírio para mim. Porque, ou eu não bebo (o que me deixa extremamente contrariada) ou eu bebo e acabo tendo que usar banheiro químico (que além de imundo tem filas quilométricas) ou contar com a caridade dos donos de estabelecimentos. Ou seja, todas as opções são deprimentes. E isso está diretamente ligado a nossa qualidade de vida! Pois urinar nas calças ou sentir a bexiga quase explodir não pode fazer do Carnaval de ninguém um mar de alegria. Os homens não entendem essa situação, mas eu tenho certeza que todas as mulheres sim!

Ou seja, o UFA! Não só é um conceito mal-idealizado para os homens como inútil para as mulheres. Continuamos sem solução para a questão dos banheiros públicos... e enquanto isso na Europa, algo já começa a ser feito nesse sentido. Pela minha breve pesquisa, a França foi o país que propôs o melhor conceito de banheiro público, segundo dados dessa matéria  aqui



Isso aqui meus caros, é como um banheiro deve parecer. Inclui homens, mulheres e deficientes. Muito inovador, não acham?

Para manter a cidade mais limpa e auxiliar os turistas, que muitas vezes tinham que utilizar os banheiros que são pagos dos grandes centros comerciais, museus. A prefeitura de Paris implantou mais de 400 banheiros públicos na cidade, em 2009.
Toilettes como o da foto acima, são de alta tecnologia e muito higiênicos. E ainda são acessíveis para cadeirantes.
Aí fica a questão, como um banheiro público, pode ser higiênico? Acima eu falei que eles possuem uma alta tecnologia e é verdade. Quando o banheiro está ocupado, uma luz vermelha fica acesa na porta e quando está livre uma luz verde ascende, as portas são automáticas para auxiliar os cadeirantes e senhores e senhoras de idade. Após uma pessoa sair do toilette, uma luz azul ascende na porta, é o estágio de auto-limpeza, onde o banheiro (como o próprio nome diz) se “auto-limpa”, a pia e o vaso são lavados e ainda são despejadas borrifadas de perfumes pelo ambiente. A pia e o secador de mãos são automáticos, de forma a economizar água e papel. [transcrição do site viagemeuropa]



Prefeito, eu preciso desenhar para você entender melhor?




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