quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Você também está revoltado com o Malafaia? - O problema do discurso

O problema maior não está na opinião pessoal, mas no reforço do discurso.


Muita gente está revoltada com a entrevista que o Malafaia cedeu para a Marília Gabriela. Obviamente que o pessoal tem sua razão, afinal desfiar comentários preconceituosos em pleno século XXI usando a religião como escudo é um pouco demais. Contudo, o que eu acho mais sério nisso tudo não é o Malafaia. Ao me ver ele é um babaca homofóbico  Mas até os babacas homofóbicos tem direito à sua opinião, seja ela qual for. Eu diria até, que ele tem o direito de expressá-la, desde que não ofenda nenhum grupo. O que é mais sério nisso tudo e que ninguém discute é: 

 - Porque a emissora decidiu entrevistar justamente o Malafaia? 

 - Porque o SBT sabia que ele iria desfiar um monte de frases preconceituosas, as quais deixariam uma série de pessoas indignadas. Enfim, ela sabia que a entrevista geraria POLÊMICA. Fosse por parte das pessoas que concordam com ele, ou das pessoas que discordam dele. E vocês sabem que polêmica = ibope. Afinal, a polêmica é “inadjetiva”. Não existe polêmica ruim ou boa, contraditória ou relevante. Polêmica é só polêmica. 

 E aí eu me pergunto, porque ao invés de gerar polêmica através do Malafaia, a emissora não procura entrevistar pessoas diretamente ligadas à defesa desses grupos que constantemente são agredidos em rede nacional? As feministas, os negros, os gays, os transexuais, os gordos, dentre outros. Pessoas que estariam aptas a mostrar o outro lado da moeda e que rebateriam os preconceitos cotidianos, podendo assim gerar uma conscientização ainda que gradual, contribuindo com a aceitação e diminuição dos casos de violência que presenciamos diariamente (as quais a mídia aliais, adora explorar - quem não acompanhou as notícias sobre o assassinato da namorada do Bruno)? E a resposta também é bem simples, meus caros:

- Porque o SBT não está do lado desses grupos. O objetivo da emissora é justamente reforçar os preconceitos e de quebra angariar pontos no Ibope, utilizando-se da desculpa de que é imparcial sobre o julgamento do Malafaia - afinal as palavras são dele. 

Sei que muitos de vocês dirão que entrevistas como essa são importantes para que a gente saiba que existam pessoas assim no mundo. Ou que são importantes porque a gente precisa dessas evidências para gerar debate sobre o tema. Mas de fato vocês não acham que seria muito mais fácil usar a entrevista de alguém pro-homossexualismo para discutir sobre a quebra do pré-conceito do que usar a entrevista de um homofobico? Eu sei que é o que a gente faz diariamente, mas na verdade a gente só faz porque falta coisa melhor. Existem milhares de blogs e fóruns lindos, escrevendo posts maravilhosos (que eu leio todo dia para me fortalecer), mas dificilmente um post chegará ao nível de debate nacional. 

Portanto, na ausência de discursos dessa abrangência, acabamos tendo que utilizar bandeiras ‘contra’, para defender que somos ‘pró’. Portanto, ao meu ver o SBT é tão responsável pelas conseqüências do discurso do Malafaia quanto ele próprio, pois ela se responsabilizou pela divulgação da entrevista. Se ela de fato estivesse interessada em combater preconceitos e evitar violências futuras ela entrevistaria pessoas de opinião contrária à do Malafaia na mesma proporção com que entrevista pessoas como ele. Mas isso nunca acontece. Ou então seria pedir muito, que ela convidasse pessoas que possuíssem um ponto de vista minimamente imparcial sobre temas tão delicados? Na TV sobram pessoas que impõem discursos, mas faltam aqueles que propõem.

Então, se vocês querem meter o pau em alguém, metam o pau no SBT também. Assim como a Marisa e a Cadiveu são responsáveis pelas suas campanhas preconceituosas esse canal também o é, por divulgar o conteúdo dessa entrevista. Há séculos que as emissoras de televisão levantam a bandeira da liberdade de expressão, sem se questionar que a liberdade de expressão não exatamente exime o orador da sua responsabilidade para com a sociedade.

Lembrem-se que replicar o vídeo e comentar exaustivamente sobre o tema só contribui para a popularidade da emissora, ainda que de forma negativa. E quantos de vocês já não ouviram a expressão: Falem mal, falem bem, mas falem de mim? Em períodos de crise na mídia televisiva, qualquer propaganda é válida. As emissoras estão tão desesperadas, que estão apelando para qualquer coisa que as façam aparecer. Até mesmo entrevistas com Malafaia, Suzana Collor, Xuxa e o dono da boate Kiss.Elas são capazes de praticamente qualquer coisa, inclusive explorar a dor alheia, qualquer coisa desde que não seja talvez, começar a alterar a sua personalidade conservadora, se propondo a discutir temas como a homossexualidade, o aborto, o sexo, a violência doméstica a partir de um outro viés. Está na hora de mostrar o outro lado da moeda. O discurso cara. Já estamos cansados do discurso dos coroas.



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