quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Mulher no volante...

Contratação de motoristas mulheres

Vi esse anúncio ontem em um busdoor (aquele anúncio que colocam no vidro traseiro dos ônibus). E acho que uma régua de 1 metro seria curta para medir o tamanho do meu sorriso. Não só por perceber que uma profissão predominantemente masculina começa a deixar de ser, mas também porque o conteúdo da propaganda acertou em cheio.

Primeiro, ela cita a "independência financeira" - o que de fato é uma coisa das quais as mulheres realmente necessitam para se libertar psicologicamente e fisicamente e se desenvolverem como indivíduos e cidadãs. Em segundo, ela afirma que não é necessário experiência - o que nos leva a crer que eles realmente desejam contratar mulheres, pois sendo uma profissão que tem sido ocupada por homens há tanto tempo, seria meio descabido exigir experiência. E em terceiro e mais importante o marketing dessa empresa fez questão de desmistificar para TODXS um preconceito ha muito arraigado em nossa sociedade: o de que as mulheres dirigem mal. Ao brincar com o famoso ditado “Mulher no volante, perigo constante”, trocando a palavra “perigo” por “sucesso” ela assume que reconhece o preconceito e que não dá a mínima para ele. É muito melhor do que se ela simplesmente tivesse ignorado esse senso comum. Além de inteligente e bem humorado, o slogan não deixa de ser um tanto subversivo. Mesmo para as mulheres que não desejam ser motoristas de ônibus ler essa frase assim tão escancarada é um bálsamo. Para os homens que a lerem, acredito que gerará um choque – que faz muito bem para pensar. E para o público-alvo da propaganda (as mulheres que desejam se candidatar à vaga) é a
certeza de que a empresa não se baseia nesse pré-conceito para suas contratações.
Mas desconfiada como sou, depois de alguns minutos de pura felicidade me pus a pensar porque a empresa decidiu-se a contratar mulheres. Porque sabe como é, nenhum chefão levanta de bom humor um dia e percebe que tem sido um grande machista todas essas décadas em que se recusou a abrir vagas para mulheres. Bem, algo ocorreu. São as mulheres que estão fazendo pressão nesse sentido? São as poucas mulheres já contratadas que estão provando que as mulheres são tão boas ou melhores que os homens nesse cargo? São os sindicatos? É a falta de mão-de-obra masculina para o cargo? É o feminismo? O que seria então? Bem, eu não sei o que anda rolando por aí. Só sei que independente do que seja é uma vitória para o feminismo e para as mulheres em geral. E eu não duvido muito que daqui a algumas décadas a profissão de motorista seja majoritariamente ocupada por mulheres. Casos semelhantes já ocorreram antes. Afinal as profissões de professores, médicos e advogados, por exemplo, já foram quase que exclusivamente ocupadas por homens - a função de secretária inclusive -  foi exercida até o século XX por homens. 
E quer saber? Basta procurar os dados do DETRAN de diversos estados do nosso belo país e você irá constatar que as motoristAs infringem menos as leis de trânsito. E antes que alguém venha com aquele embasamento biológico, dizendo que as mulheres são mais calmas e os homens mais agressivos por natureza etc e tal eu já digo que discordo. Tanto porque existem mulheres que são péssimas motoristas: super agressivas e irresponsáveis.

Acredito que o machismo influencia todo o comportamento social e isso obviamente inclui a atitude no trânsito. Homens são estimulados a não terem medo, a serem agressivos e competitivos e as mulheres a serem exatamente o oposto. Por isso você verá que as infrações mais praticadas pelos homens são aquelas ligadas ao excesso de velocidade (ausência de medo e/ou competitividade) e direção alcoolizada (agressividade). O volume de infrações femininas são bem menores nesses casos. Em matéria para o Zero Hora a psicóloga Aurinez Schmitz, fundadora do Ande Bem Instituto de Psicologia do Trânsito, aponta que a atitude mais ajuizada no trânsito por parte das mulheres estaria ligado ao fato delas enxergarem o carro como um meio de autonomia, e não como um instrumento para expressar sua competitividade. Portanto, essa diferença de atitudes no trânsito não tem justificativa biológica, ela é puramente social. E sendo um comportamento social ele pode se modificar. Não apenas o homem pode deixar de ser tão agressivo, como a mulher pode tornar a sê-lo.



Queria deixar claro que não acredito que as mulheres sejam santas no trânsito e que por isso os volantes devam ser delegados somente à elas. Sim, porque todo mundo acha que as feministas querem exterminar os homens e fundar uma supremacia feminina. Não, não. O fato de ser feminista não me faz achar que todas as mulheres estão corretas no que quer que sejam ou façam. Nós feministas queremos apenas a desconstrução dos estereótipos de gênero e a conquista da igualdade de tratamento. Queremos que as pessoas sejam julgadas pelas suas atitudes independentemente do seu sexo, opção sexual e identificação de gênero. E isso inclui claramente o acesso ao mercado de trabalho e o direito de guiar o seu veículo com talento ou sem talento, sem ter que ouvir frases preconceituosas como: "Só faz m*rda tinha que ser mulher!" ou "Ela dirige tão bem, e olha que é mulher!" 

Porque a cada dia que passa estamos dirigindo melhor nossas vidas, estamos cansadas de ocupar apenas o banco do carona. E não importa as curvas da estrada, nós chegaremos lá: nem a frente nem atrás dos homens, apenas emparelhadas à eles. Conduzindo para um mundo melhor.

Confira abaixo as infrações mais aplicadas em janeiro para ambos os sexos, pelo Detran RS:






Nenhum comentário:

Postar um comentário

.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...