quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Mulher no volante...

Contratação de motoristas mulheres

Vi esse anúncio ontem em um busdoor (aquele anúncio que colocam no vidro traseiro dos ônibus). E acho que uma régua de 1 metro seria curta para medir o tamanho do meu sorriso. Não só por perceber que uma profissão predominantemente masculina começa a deixar de ser, mas também porque o conteúdo da propaganda acertou em cheio.

Primeiro, ela cita a "independência financeira" - o que de fato é uma coisa das quais as mulheres realmente necessitam para se libertar psicologicamente e fisicamente e se desenvolverem como indivíduos e cidadãs. Em segundo, ela afirma que não é necessário experiência - o que nos leva a crer que eles realmente desejam contratar mulheres, pois sendo uma profissão que tem sido ocupada por homens há tanto tempo, seria meio descabido exigir experiência. E em terceiro e mais importante o marketing dessa empresa fez questão de desmistificar para TODXS um preconceito ha muito arraigado em nossa sociedade: o de que as mulheres dirigem mal. Ao brincar com o famoso ditado “Mulher no volante, perigo constante”, trocando a palavra “perigo” por “sucesso” ela assume que reconhece o preconceito e que não dá a mínima para ele. É muito melhor do que se ela simplesmente tivesse ignorado esse senso comum. Além de inteligente e bem humorado, o slogan não deixa de ser um tanto subversivo. Mesmo para as mulheres que não desejam ser motoristas de ônibus ler essa frase assim tão escancarada é um bálsamo. Para os homens que a lerem, acredito que gerará um choque – que faz muito bem para pensar. E para o público-alvo da propaganda (as mulheres que desejam se candidatar à vaga) é a

Marina Castañeda


          A ausência de medo é um dos fatores que separam os homens das crianças e das mulheres. O que significa, e como se manifesta,essa pretensa valentia?
          Em primeiro lugar, expressa-se com grande freqüência como uma lamentável falta de precaução. De homens que dirigem motocicletas sem usar capacete a motoristas que ultrapassam em curvas sem hesitar e operários que usam ferramentas perigosas ou substâncias tóxicas sem proteção alguma, muitos homens recusam-se a tomar cuidado por medo de parecerem medrosos. Segundo as equações simplistas do machismo, precaução significa medo, e este é uma emoção indigna do homem, uma debilidade própria das mulheres; como conseqüência necessária, ausência de cuidado equivale a valentia. No entanto, não  podemos chamar coragem a essa forma de temeridade, porque a coragem bem compreendida não significa ignorar o perigo, mas enfrentá-lo com inteligência e com maiores possibilidades de vencê-lo. E o custo da temeridade é altíssimo: traduz-se anualmente em dezenas de milhares de acidentes de carro e de trabalho, que poderiam ter sido evitados com um mínimo de precaução. A cultura da prevenção, que as autoridades tanto encorajam quando exortam a população a seguir as medidas de segurança em todos os tipos de situação, continuará a ser pouco eficaz enquanto perdurarem os valores machistas. Muitos homens desobedecem às regras não por ignorância nem por inconsciência, mas por machismo.
         E o que dizer dos homens que, para não parecerem “covardes”, se enredam em discussões ou brigas das quais sabem que sairão machucados? Quantas altercações desnecessárias e insensatas não ocorrem porque um ou vários homens sentem-se obrigados a demonstrar que “não tem medo de ninguém”? Poderíamos dizer que a falsa coragem do machismo (falsa porque não enfrenta o medo, apenas o disfarça) é uma atitude de alto risco, que cria dificuldades e perigos para toda a sociedade. Além disso, a vergonha que alguns homens sentem quando têm medo pode  obscurecer o julgamento e distorcer suas reações: agem a partir do medo da vergonha, em vez de se deixarem guiar pelo medo do problema real.
[...]
      A reticência em mostrar o medo também impede os homens, em muitas ocasiões, de solicitar auxílio. Nas mesmas circunstâncias  em que uma mulher não hesitaria em buscar assistência – nas vias públicas ou em algum lugar desconhecido -, muitos homens recusam-se a demonstrar receio ou insegurança e tentam sair da dificuldade sem recorrer a ninguém. O mesmo acontece, decerto, no terreno das relações interpessoais, que tão freqüentemente exigem a superação de temores profundamente arraigados, como o medo da rejeição ou do abandono. Em vez de compartilhar esses medos (que, afinal, são naturais), muitos homens preferem guardá-los para si, anulando assim a única ajuda real que poderiam encontrar, e que está no diálogo.

CASTAÑEDA, Marina (2006). O machismo invisível. São Paulo: A Girafa Editora.p.138-139



segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Sendo até não ser.

Eu penso sobre a felicidade,
eu penso sobre a velha felicidade.
Ou nova felicidade,
imútavel, insconstante, intransigente, verdadeira, perene, escondida felicidade. 

Olho em volta, para todas essas pessoas daqui 
e me parece que para elas a felicidade não existe. 
Não como algo que elas não possuem, 
mas como algo que nunca chegou a existir. 
Como uma palavra inexistente no dicionário delas. 
Algo que não podem ter, porque não se vende no mercado. 
Um não ter. 
Não ser. 
Feliz. 
Palavra pequena de 5 letras, mas o quão esmagadora você pode ser! 
Na sua existência ou na sua ausência, que embobece ou enlouquece, respectivamente. 

Eu, que  só sou feliz em interstícios, fico a pensar em você e a sorrir. 
Como existem pessoas ricas e tristes, 
pobres e felizes, 
doentes felizes, 
saudáveis-infelizes. 
Existe alguma lógica então? Algo em que eu possa me orientar? 
Não sei, é a resposta. 
É sempre a minha resposta. 
Porque eu nunca sei...até saber. 
Ao contrário do saber, eu sou feliz até de repente... não ser mais. 
E não ha lógica nenhuma que eu possa explicar à alguém que tenta me fazer feliz. 
Apenas respondo: "Não sei porque estou triste." E não sei mesmo. 
Acho de verdade que a tristeza é uma doença. E que a felicidade é um placebo. 
A doença perdura. 
A cura é sempre transitória.
Não é real, mas serve, não cura, mas distrai. 
E quem há de reclamar de um placebo? 
Contanto que cure a dor ainda que não a doença, serve. 

A gente vai levando como pode. Efeitos Colaterais? 
Podem acontecer, mas vale o risco. 
Eu que sou maluca demais me encho de placebo até a tampa, e depois choro ou durmo. 
Quem ha de ligar? 
Se a tristeza é só minha, a felicidade também. E não permito que se intrometam em nenhuma delas. 

Como o estranho camaleão, me transformo quando é preciso, não ha explicação para tal. 
Aliais, porque sempre me pedem para explicar?
 Eu não sei onde doí, e nem sei porque doí. Também não sei porque rio à toa, vendo o Sol nascer, ou vendo meninos de rua tocando flauta em frente a drogaria. 
EU NÃO-SEI. 
A minha felicidade é placebo. 
Eu mesma sou um placebo.
 Remédio, eu sou apenas para mim mesma. 

por Ariana

28/07/2012

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Por um céu mais azul

Tem pessoas que deixam o nosso céu mais azul :)
Tão natural quanto a luz do dia
Mas que preguiça boa, me deixa aqui a toa
Hoje ninguém vai estragar meu dia
Só vou gastar energia pra beijar sua boca
Fica comigo então, não me abandona não
Alguém te perguntou como é que foi seu dia?
Uma palavra amiga, uma noticia boa
Isso faz falta no dia a dia
A gente nunca sabe quem são essas pessoas
Eu só queria te lembrar
Que aquele tempo eu não podia fazer mais por nós
Eu estava errado e você não tem que me perdoar
Mas também quero te mostrar
Que existe um lado bom nessa história
Tudo que ainda temos a compartilhar
E viver, e cantar
Não importa qual seja o dia
Vamos viver, vadiar
O que importa é nossa alegria
Vamos viver, e cantar
Não importa qual seja o dia
Vamos viver, vadiar
O que importa é nossa alegria

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Feminist Anthem

Call me a loser
Trespass my rights
I feel strong enough
to pick up this fight

Girls are so smoth
Girls are so quiet
My tongue like a snake
just preparing to bite

This little assholes
they can't handle a beef
Don't mess up with us
We're sharp as a reef

Women can punch 
in a surprise left hook
We can run faster
than you can even look

     Don't come and flatter us
   We're not that emotive
    We will run over patriarchy
with a feminist locomotive


por Ariana 18/02/2013



Me chame de perdedora
Transgrida meus direitos
Eu me sinto forte o suficiente
para encarar essa luta

As meninas são tão suaves
As meninas são tão quietas
Minha língua é como uma cobra
se preparando para morder

Esses babaquinhas
não aguentam uma briga
Não mexa comigo
Sou afiada como uma rocha

As mulheres podem socar
em um gancho de esquerda surpresa
Podemos correr mais rápido
do que você pode sequer olhar

Não  venha nos bajular
A  gente não é tão emotiva assim
Nós vamos atropelar o patriarcado
com uma locomotiva feminista

Margaret Mead


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Carnaval 2013: Gracyanne e o mito da fragilidade


      Para além da minha opinião sobre beleza física das mulheres eu não pude deixar de achar graça em todo esse rebuliço por causa do corpo da Gracyanne. Centenas de homens e mulheres fazendo comentários sobre tamanha modificação corporal e postando fotos comparando-a ao Hulk. Pois bem, a graça consiste no fato de ninguém apontar as dezenas de outras “modificações corporais” as quais as mulheres se sujeitam para estar na Sapucaí: implante de silicone, implante de bumbum, lipoaspiração, dieta extrema, malhação pesada, tratamentos dermatológicos, tratamentos estéticos, operações cirúrgicas leves, médias e/ou pesadas, etc, etc...

    
    Esse tipo de intervenção corporal não é discutida ou rechaçada, pois o seu objetivo é deixar a mulher mais “feminina”. Logo, não importa o nível de sacrifício, dor ou risco para saúde, porque o objetivo é se tornar a mulher perfeita. Ainda que se morra tentando. Contudo, uma mulher buscar um corpo musculoso (ainda que isso não signifique perda de saúde) não pode! Imagina se a moda pega e toda mulher decide ficar forte daquele jeito? Porque a comparação feita foi com o “Hulk” sabe, aquele símbolo de poder e força que pode ser associado positivamente aos homens, mas para as mulheres vira apenas uma ilustrativa chacota. Porque força física e poder é algo que não-nos-pertence. É um afronte social. Além do mais a bunda dela estava estranha, aí mesmo que estamos bem embasados para repudiar seu corpo não-perfeito, a despeito do esforço de horas na academia para atingir aqueles músculos. Pode jogar tudo no lixo Gracy, o esforço não valeu a pena...

   Isso imediatamente me lembrou duas pessoas. Uma foi o Iggy Pop em uma frase que ele diz “Não tenho vergonha de me vestir como uma mulher, porque não acho vergonhoso ser uma mulher.” Ao meu ver, os homens que comparam a Gracyanne à um homem, acham vergonhoso ser homem, e ponto. 

A segunda pessoa é a Collete Dowling em vários trechos do seu livro “O mito da fragilidade”, os quais são bons para fazer pensar sobre todo esse patrulhamento em relação ao corpo feminino.


  Esporte é masculino. Músculo é masculino. Poder é masculino. E à medida que a mística do poder masculino é lentamente esvaziada, como um balão furado, os homens acham que algo lhes está sendo tomado. Pensam que algo está inegavelmente, correndo risco, que alguma coisa profundamente antinatural está acontecendo, e que estão à mercê de algum enorme e poderoso mecanismo contaminado pela injustiça – injustiça contra eles.     [pg190]

  O mito da fragilidade não se refere apenas à exclusão da mulher do “mundo do esporte”, à “negação de permissão para competir” ou mesmo a condição de vítimas de discriminação, mas ao fato de ela ser realmente impedida de usar o corpo – e isso por uma boa razão. Quando fisicamente debilitada, ela se torna social e politicamente fraca. Não é tanto que o homem queira que ela seja frágil e fisicamente inapta e, sem dúvida, há homens que sequer desejariam isso. O que eles querem, simplesmente, é continuar a tomar as grandes decisões  e isso é mais fácil de conseguir quando o outro – a outra raça ou o outro sexo – é economicamente enfraquecido, intelectualmente debilitado, fisicamente rebaixado ou, idealmente, todas as três coisas.
  No último século, graças a uma intensa luta, a mulher conseguiu livrar-se dos dois primeiros estados de fraqueza. Agora, está conseguindo libertar-se do terceiro. O homem, na verdade, está muito preocupado vendo-a abandonar o estado anterior de debilidade e obter poder físico, que é o poder final de que ela necessita – o poder que selará igualdade. Por essa razão, a sociedade fez, e faz, um grande esforço para controlar o desenvolvimento físico de menina e mulheres e mantê-las fora do  jogo – um jogo que é muito mais importante do que apenas o jogo do esporte. [Pg198]

Virginia Valian


Virginia é professora de psicologia e linguística na Hunter College, em Nova York. e autora de Why, so slow?

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

As Vantagens de ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower) - Filme


Eu tive chances de ir ao cinema assistir esse filme. Eu fui impelida para tal. Eu hesitei na bilheteria. E não fui. Mas teimosa como toda ariana, baixei para assistir em casa e me arrependi. Me arrependi de não ter ido ao cinema, porque esse filme é fantástico.  Tudo bem que eu não li o livro homônimo que deu origem ao filme, mas a história me pareceu uma versão moderna e cinematográfica de  “O Apanhador do Campo de Centeio”. Bem eu adoro o Apanhador, e também adoro filmes que levam a sério a temática adolescente, justamente porque essa é a melhor fase da vida, e embora seja breve não há nada de leviano nela. É a partir dessas últimas experiências de transição entre a juventude e a maturidade que melhor se delineia quem seremos.


A história é narrada por Charlie (Logan Lerman) - um adolescente tímido e impopular, que tem dificuldades para interagir em sua nova escola devido a um trauma de infância. A narrativa se dá através de uma série de cartas para uma pessoa anônima e explora as fases difíceis da adolescência. Embora seja bom estudante, pesa sobre ele a falta de interação social... até o dia em que dois amigos, Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson), passam a andar com ele, integrando-o e ensinando-o outras facetas da vida.

Emma Watson
Sei lá, eu detesto parecer aduladora, mas eu tenho uma série de elogios à fazer a esse filme, desde a ótima atuação de Ezra Miller e Emma Watson, que estão absolutamente encantadores, até a deliciosa trilha sonora, passando pelos figurinos, e a perfeita mescla entre drama leve e intenso. Outro elogio particular é sobre o nome do filme. O que dizer desse nome “The Perks of Being a Wallflower?" é tão sonoro e tão pungente aos meus ouvidos. Sem contar a própria brincadeira presente no nome, pois ser invisível não atribui nenhuma vantagem direta para o personagem de Logan Lerman , a não ser a de torná-lo um espectador e portanto um ótimo “leitor de pessoas”. Mas aí é que mora a chave do filme. Ser um bom leitor do ser humano é característica imprescindível ao bom escritor. E é justamente através da palavra que ele encontra a fuga e o encontro consigo mesmo. é apenas através da palavra que sua história de vida se torna conhecida. é apenas através da palavra que ele consegue se expressar por inteiro. Sua qualidade de invisível o torna portanto, extremamente visível no final das contas. 

Ezra Miller
Embora o filme siga essa modernosa fórmula indie o roteiro não deixa de ser inteligente, divertido e duro. Tem seus defeitos, não é um clássico, mas ele me caiu muito bem no dia de ontem. Ando achando tão difícil um filme que consiga conter seriedade e leveza ao mesmo tempo, aliais anda sendo difícil encontrar isso nas pessoas e em mim mesma, portanto é algo que admiro. Não gosto de coisas vazias, mas ando estafada do transbordamento de sentidos.

Me sinto quase que obrigada a finalizar esse post com a frase que talvez seja a mais marcante do filme:

"We accept the love we think we deserve”.
Logan Lerman e Emma Watson
                              “A gente aceita o amor, que acha que merece”.

Dava para ser melhor?


Direção: Stephen Chbosky | Roteiro: Stephen Chbosky | Produção: John Malkovich, Lianne Halfon e Russell Smith

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Documentária



Eu digo que:

é necessário esboçar
um fino traçado de dor
sem ultrapassar a tênue
estrutura frágil do amor

é preciso gritar as frases
sentimentais do poeta
sem esquecer que fere-se mais
aquele que dispara a seta

Gritar, sem nunca esquecer
o vindouro desconforto do amanhã
Eu juro, é preciso gritar
         Na intimidade psicanalítica do divã 
  
É preciso se expor
sem temer a opinião alheia
Cuidar da beleza interior
inaceitável faceta feia

Todos nós somos um pedaço de nada
Eu digo, somos um pedaço de trigo
e o joio, mero detalhe da alma
para sempre deitado comigo





por Ariana

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A Margar-idas


Vida Desregrada.
Bruta.
Desmedida.
Vida que é apenas vida:
Astuta
Felina


                                                        Vida de passadas mansas
 Tão gastas, uma pena
                                                              Vida de passos largos
                                                                    Rotos edemas

Vida que sobe, sobe
E desce num solavanco
Ecoando seu canto pobre
Ressoando seu raro encanto

Vida que só é boa se vivida
Com desapegado interesse
Vida que remói essa filha
Que esboça muito mais que um flerte

Como dói o peso da vida
levada com inocuidade
Enlevada pela simpatia
                                                      E exterminada pela sociedade

 
Nunca filha, nunca filha
Um pária, eu sei, talvez
Urdida num jardim-ilha
Destituído de porquês



por Ariana

Machado de Assis


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Você também está revoltado com o Malafaia? - O problema do discurso

O problema maior não está na opinião pessoal, mas no reforço do discurso.


Muita gente está revoltada com a entrevista que o Malafaia cedeu para a Marília Gabriela. Obviamente que o pessoal tem sua razão, afinal desfiar comentários preconceituosos em pleno século XXI usando a religião como escudo é um pouco demais. Contudo, o que eu acho mais sério nisso tudo não é o Malafaia. Ao me ver ele é um babaca homofóbico  Mas até os babacas homofóbicos tem direito à sua opinião, seja ela qual for. Eu diria até, que ele tem o direito de expressá-la, desde que não ofenda nenhum grupo. O que é mais sério nisso tudo e que ninguém discute é: 

 - Porque a emissora decidiu entrevistar justamente o Malafaia? 

 - Porque o SBT sabia que ele iria desfiar um monte de frases preconceituosas, as quais deixariam uma série de pessoas indignadas. Enfim, ela sabia que a entrevista geraria POLÊMICA. Fosse por parte das pessoas que concordam com ele, ou das pessoas que discordam dele. E vocês sabem que polêmica = ibope. Afinal, a polêmica é “inadjetiva”. Não existe polêmica ruim ou boa, contraditória ou relevante. Polêmica é só polêmica. 

 E aí eu me pergunto, porque ao invés de gerar polêmica através do Malafaia, a emissora não procura entrevistar pessoas diretamente ligadas à defesa desses grupos que constantemente são agredidos em rede nacional? As feministas, os negros, os gays, os transexuais, os gordos, dentre outros. Pessoas que estariam aptas a mostrar o outro lado da moeda e que rebateriam os preconceitos cotidianos, podendo assim gerar uma conscientização ainda que gradual, contribuindo com a aceitação e diminuição dos casos de violência que presenciamos diariamente (as quais a mídia aliais, adora explorar - quem não acompanhou as notícias sobre o assassinato da namorada do Bruno)? E a resposta também é bem simples, meus caros:

- Porque o SBT não está do lado desses grupos. O objetivo da emissora é justamente reforçar os preconceitos e de quebra angariar pontos no Ibope, utilizando-se da desculpa de que é imparcial sobre o julgamento do Malafaia - afinal as palavras são dele. 

Sei que muitos de vocês dirão que entrevistas como essa são importantes para que a gente saiba que existam pessoas assim no mundo. Ou que são importantes porque a gente precisa dessas evidências para gerar debate sobre o tema. Mas de fato vocês não acham que seria muito mais fácil usar a entrevista de alguém pro-homossexualismo para discutir sobre a quebra do pré-conceito do que usar a entrevista de um homofobico? Eu sei que é o que a gente faz diariamente, mas na verdade a gente só faz porque falta coisa melhor. Existem milhares de blogs e fóruns lindos, escrevendo posts maravilhosos (que eu leio todo dia para me fortalecer), mas dificilmente um post chegará ao nível de debate nacional. 

Portanto, na ausência de discursos dessa abrangência, acabamos tendo que utilizar bandeiras ‘contra’, para defender que somos ‘pró’. Portanto, ao meu ver o SBT é tão responsável pelas conseqüências do discurso do Malafaia quanto ele próprio, pois ela se responsabilizou pela divulgação da entrevista. Se ela de fato estivesse interessada em combater preconceitos e evitar violências futuras ela entrevistaria pessoas de opinião contrária à do Malafaia na mesma proporção com que entrevista pessoas como ele. Mas isso nunca acontece. Ou então seria pedir muito, que ela convidasse pessoas que possuíssem um ponto de vista minimamente imparcial sobre temas tão delicados? Na TV sobram pessoas que impõem discursos, mas faltam aqueles que propõem.

Então, se vocês querem meter o pau em alguém, metam o pau no SBT também. Assim como a Marisa e a Cadiveu são responsáveis pelas suas campanhas preconceituosas esse canal também o é, por divulgar o conteúdo dessa entrevista. Há séculos que as emissoras de televisão levantam a bandeira da liberdade de expressão, sem se questionar que a liberdade de expressão não exatamente exime o orador da sua responsabilidade para com a sociedade.

Lembrem-se que replicar o vídeo e comentar exaustivamente sobre o tema só contribui para a popularidade da emissora, ainda que de forma negativa. E quantos de vocês já não ouviram a expressão: Falem mal, falem bem, mas falem de mim? Em períodos de crise na mídia televisiva, qualquer propaganda é válida. As emissoras estão tão desesperadas, que estão apelando para qualquer coisa que as façam aparecer. Até mesmo entrevistas com Malafaia, Suzana Collor, Xuxa e o dono da boate Kiss.Elas são capazes de praticamente qualquer coisa, inclusive explorar a dor alheia, qualquer coisa desde que não seja talvez, começar a alterar a sua personalidade conservadora, se propondo a discutir temas como a homossexualidade, o aborto, o sexo, a violência doméstica a partir de um outro viés. Está na hora de mostrar o outro lado da moeda. O discurso cara. Já estamos cansados do discurso dos coroas.



domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Direito Divino das Cantadas


  Peço de antemão que me desculpem o volume de fúria com que escrevo essas palavras. Mas experiências são algo que afetam a gente, e infelizmente nem todas são boas, a de hoje me irritou a tal ponto que praticamente me fez verter as palavras a seguir. 

  Porque  tem uma coisa que me irrita: é a incapacidade da maioria dos homens em ficar quieto quando vê uma mulher na rua. Basta praticamente qualquer mulher bonita ou arrumada passar por eles que dá-lhe uma saraivada de gemidos, grunhidos, onomatopeias, frases bregas e de mau gosto. Além disso, eles parecem julgar esse “costume social” como um direito divino, porque não aceitam contestação por parte das moças. Afinal, você já experimentou voltar quando um homem te canta na rua e dizer à ele que você não gostou e que isso é uma falta de educação? Ou mesmo, já mandou que eles fossem à merda como resposta? Se sim, você já constatou a teoria do Direito Divino das Cantadas. Porque sabe como é, a liberdade das mulheres nunca é completa e indiscutível. Podemos votar? Sim. Podemos ser advogadas? Sim. Policiais? Sim. Mas gritar...bem... isso lá não é coisa que caia bem à nossas finas pessoas femininas. De "princesas" e "gostosas", passamos logo pra "vadias" e "mal-comidas" em um piscar de olhar. Moça, tudo tem limite nessa vida! Então não force o dos meninos, ok? Porque os homens podem falar o que quiserem, onde quiserem, na altura que quiserem. E é essa percepção de vida, que basicamente respalda a propriedade masculina à cantada. O direito de interferir na mobilidade feminina em vias públicas.

  Mas mesmo assim vai ter homem para discursar: “Mas isso é problema de vocês, o fato de eu te cantar não te impede de sair à rua!” Mas então o que vocês pretendem quando mexem com a gente? Não percebem que é a mesma coisa? Ou vocês sinceramente estão esperando conseguir uma conquista falando esse monte de besteiras? Céus, desde que meu avô era moço que a gente ouve essas coisas, e o método nunca foi eficaz para “conseguir mulheres”. Então, se o método não é eficaz, porque vocês continuam repetindo a mesma ladainha anos à fio? Fica claro que se os homens não fazem isso para conquistar, fazem para implicar com a gente. Se divertindo as nossas custas, porque eles sabem que ficamos irritadas, ainda que na maioria das vezes a gente finja que não ouviu. Cantadas são uma perseguição machista passada de pai para filho como se fosse uma verdadeira herança natural. 

  Um dos problemas é que o sujeito que te canta pensa que ele é o único do dia. Mas a verdade é que quando você sai de casa parece mais um corredor polonês de gracinhas. Você passa pelo bar: fiu-fiu. Passa pelo mecânico: fiu-fiu. Passa pela obra: fiu-fiu. Isso quando homens avulsos nos pontos de ônibus, filas de supermercado, janelas de carros não ficam te olhando fixamente, te avaliando de cima à baixo. Parece a porra de uma conspiração para te encher o saco e você faz uma anotação mental e subconsciente de não voltar muito tarde para casa, porque hoje você “está chamando muita atenção” . 

  Enquanto temos que lidar com essa invasão diária dos nossos corpos e mentes os homens pensam que nos cantando estão apenas brincando. Alguns chegam a achar que a gente curte a coisa, mas a maioria deles - eu tenho certeza  - nunca parou pra pensar em como a gente se sente. Assim como a velha defesa da piada preconceituosa: “Foi só uma piada”, eles repetem que “Foi só uma cantada”. O que acontece é que ser o alvo da “brincadeira” dos outros nunca é engraçado. E nos mulheres SEMPRE somos o alvo. A coisa nunca se inverte. A verdade é que as cantadas são um chiste de mão única. Um bulling invisível. E isso é coisa muito séria para mim.


Sofie Peeters resolveu gravar o que ouvia dos homens na rua, com uma câmera escondida, em Anneessens, bairro pobre de Bruxelas, onde mora. As horas de gravação viraram o documentário “Femme de La rue”, que ganhou as fronteiras do país e acendeu o debate sobre o tema.

Mas esse aqui é o vídeo mais engraçado que eu já vi sobre o tema!



Entrevista com o Vampiro – Anne Rice

Vampiros. Hoje em dia é difícil falar sobre eles, com essa rixa não declarada entre aqueles que defendem o bom e antigo vampiro mau e impiedoso e aqueles que amam os novos vampiros bonzinhos e apaixonados. O que eu posso dizer é que Entrevista com Vampiro paira acima dessa querela sobre os pobres coitados que nem existem, porque a Anne Rice é a mãe das histórias vampirescas. Seus livros já estavam cansados de serem lidos antes que surgissem Blades, Edwards, Angels, Jerrys, Stefan e Damon Salvatore e Bills Compton. Portanto, vamos lá.


O livro trata do triângulo vampiresco formado por Lestat, Louis e Cláudia. O vampiro Lestat, transforma o humano Louis em vampiro e ambos transformam a menina Cláudia com apenas 5 anos. A história gira em torno da incapacidade de Louis em aceitar sua nova natureza, e assumir com paixão a necessidade de matar seres humanos para viver. Lestat é o exato oposto: se compraz na maldade, e mata não só por necessidade como por prazer. Cláudia a “filha” dos dois é um amálgama de ambos, mata sem culpa, mas assim como Louis procura por algo a mais. Eles acabam por encontrar outros da sua espécie no Teatro de Vampiros em Paris, e a partir do encontro com Armand e os outros a narrativa toma um fim trágico. A história é contada em forma de relato do vampiro Louis ao repórter que ele convida para ouvir/registrar suas experiências.

A verdade é que Louis não consegue abandonar seu lado humano, e conseqüentemente ao manter a crença inferno x céu; Deus x Diabo e pecado x graça não consegue aceitar quem ele é: um assassino. Não pode viver sem matar, mas matando não vive em paz. Que dilema, hein rapaz? O pior, é que ignorando a existência de outros da sua espécie, Louis tem em Lestat – seu “pai” criador – única referência vampiresca. E Lestat é o que podemos apelidar de vilão-mor. O vampiro é mau, sádico e ganancioso. Entendendo que Louis precisa de outra companhia que não a sua, ele encoraja Louis a transformar a pequena Cláudia em vampira – aprisionando a coitada para sempre em um corpo de criança.  

Atenção, os trechos abaixo contém vááários spoilers:


Apesar de tudo os três conseguem conviver bem durante várias décadas. Até quando Cláudia percebe que apesar de amadurecer mentalmente continua presa à um corpo de criança. Com raiva por ter sido Lestat quem a transformou em vampira ela decide matá-lo, e consegue. Ela e Louis jogam o corpo no pântano e decidem ir para a Europa procurar outros vampiros. Nisso Lestat reaparece, eles ateiam fogo na casa e saem fugidos, sem saber se Lestat morreu ou não. Se aventurando por países do mediterrâneo eles descobrem vampiros grotescos, quase animalescos até chegarem à Paris onde finalmente conhecem o Teatro dos Vampiros e seus refinados “atores”. Louis se apaixona pelo vampiro Armand – uma espécie de líder do clã. Cláudia se sentindo ameaçada pela iminente perda de Louis pede que ele transforme a jovem chamada Madeleine para que lhe faça companhia. Pedido que ele concede com bastante sofreguidão. O problema é que o clã desconfia que Louis e Cláudia mataram o seu criador, crime esse que deve se vingado com  pena de morte. Quando enfim Lestat aparece para se vingar de Cláudia, os vampiros resgatam os três e matam Cláudia e Madeleine. Louis é salvo por Armand. Consumido pelo desejo de vingança, Louis coloca fogo no teatro e mata  todos os vampiros. A partir de então, vai viver com Armand. Conforme o tempo passa Louis descobre que nada mais irá aprender com ele, e ambos se separam. Louis volta então para New Orleans, onde encontra Lestat definhando em uma casa caindo aos pedaços. FIM da história. Se você fosse o repórter o que faria depois de ouvir todo esse relato? No mínimo eu sairia voada dali, porque tantas horas contando uma história deve ter deixado o vampiro com fome. Coisa nenhuma, o maluco do cara quer ser transformado em vampiro também, e a coisa termina assim, sem você ter certeza se rolou ou não. FIM DE VERDADE.

Bem, deu pra sentir que eu fiquei um pouco decepcionada com o livro. Eu simplesmente adorei o filme e não conseguia parar de ver os rostinhos do Tom Cruise, do Brad Pitt e da Kirsten Dunst enquanto avançava pelas páginas. Acabei ficando triste ao constatar que esse livro caiu na minha lista de raridades: geralmente os livros que são adaptados para o cinema são bem melhores que os próprios filmes e não o contrário. Só que dessa vez não. Infelizmente esse livro é a segunda raridade na minha lista, a primeira foi Clube da Luta – o livro é uma droga. Caramba! Pensando agora, será que a culpa é do Brad Pitt? Basta o xuxu aparecer que o filme fica melhor?

Mas nós, lindos leitores sabemos que mesmo do pior livro é possível tirar algo de bom. Esse me fez pensar sobre a busca pelo significado da vida que atormenta a quase todos. O livro acabou se tornando uma metáfora vampiresca para incapacidade humana de amar a si própria e abraçar seu destino, da influência do meio sobre quem somos, do perigo em responsabilizar os outros pela nossa felicidade ou tristeza e da eterna falta de conformidade com a brutalidade da existência O desencadeamento desses sentimentos aparece na personagem de Louis da seguinte forma:

Louis é infeliz como ser humano por se responsabilizar pela morte do irmão à Por esse motivo, Louis acaba seduzido por Lestat, que o transforma em vampiro à Depois que Louis descobre que levará uma vida eterna matando pessoas para se alimentar e que esse é o único prazer profundo que um vampiro pode sentir, ele passa a odiar o que é à Dessa maneira, ele passa a odiar Lestat por assumir esse destino com tanta facilidade e por ser sua única referência à Ele parte em busca de outros vampiros acreditando que eles possam  conceder algum  significado para a sua vida à Ele encontra vampiros piores do que Lestat à Ele se apaixona por Armand, porque pensa encontrar nele a salvação à Ele se decepciona novamente.

Ou seja, Louis nunca é feliz, porque antes de tudo não consegue aceitar quem é. Quando você não se ama a vida perde completamente o significado. Acreditar que outras pessoas podem lhe restaurar isso é o segundo erro que podemos cometer. As pessoas irão te influenciar para o mal e para o bem, mas elas nunca serão responsáveis pelo seu destino. Para mim o repórter funciona como o psicólogo. A figura que ouve sempre calada, fala pouco, mas te permite avaliar a própria vida pela mera repetição de si para si. É foi basicamente isso. 

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