quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A tristeza é como o maço de cigarros que você compra na banca de jornais.

 por Ariana G. Mendonça 

A tristeza em muito se assemelha a um maço de cigarros. Se você reparar, na maioria das vezes é você quem procura pela tristeza, poucas vezes ela realmente se impõe à você. Mas esse fato nós nunca admitiremos.Assim como na maioria das vezes, escolhemos deliberadamente comprar nossos cigarros. Não é propriamente o vicio que nos impele. Ele é apenas uma desculpa. Discorda?
        De qualquer maneira duvido que alguma vez você tenha achado um maço de cigarros pela calçada que por acaso te diz:
_ Que tal um trago hoje? Juro que não te farei mal.
        Não, meu amigo. Isso nunca vai acontecer. Cigarros não falam, cigarros não pedem. Você sim. Mas mesmo assim você insiste em dizer que ele é mais forte que você.  Então tudo bem, você compra e abre o maço, assim como quem sofre e remoe tristeza: PORQUE QUER. 
          Então você olha atentamente os cigarros ali dentro dispostos. Comprimidos daquele jeito parecem muitos, MUITOS. Parece que  você nunca vai dar cabo de todos eles. Assim como você acha que nunca vai superar a tristeza quando está triste. Mas  a tristeza acaba, assim como uma hora inevitavelmente os seus cigarros acabarão. Você sabe que um por um, eles serão fumados. Assim como as tristezas são derrotadas uma de cada vez. Isso não é nenhuma novidade.Mas ainda assim sempre que compra um maço novo, é invadido pela sensação de que o maço não tem fim. Toda nova tristeza é como uma barreira a se transpor, se você nunca viu, sempre vai achar que é impossível passar por ela.
        Os maços de cigarros são exatamente como a vida. Você abre a vida. E vez por vez escolhe a tristeza que vai tragar - ou melhor que vai tragar você - É como se cada cigarro representasse um tipo de dor na vida: um dia você pega a solidão, outro o medo,  outro ainda a doença, e por vezes o desespero, a desilusão, a morte...
        Então você pega um cigarro e encaixa ele no canto da boca, acende e espera. Quando você traga a fumaça para dentro, por mais que solte uma grande parte para fora em maciças e compactas unidades de alcantrão a maior parte reside mesmo é dentro de você. É como desabafar com um amigo, você alivia a pressão mas não desaparece com ela. A fumaça segue penetrando a carne, se instalando nos pulmões, volvendo sua carne. A tristeza nunca abita uma só parte do corpo. Geralmente ela faz doer todas as partes. É como tomar uma surra. A fumaça logo distribuirá suas substancias danosas às outras partes do corpo e as afetarão. Coração, pulmão, estomago, pau, cérebro. Infarto, insuficiência  câncer  impotência  AVC. Com o passar do tempo e cigarro atras de cigarro. Com o passar dos anos, com tristeza acumulada à tristeza um dia você se descobre doente.
Incurável.
Cansado da vida.
Anseando a morte.
      E quando você percebe  que enfim o cigarro levou a melhor dos dois. Você abre a gaveta da mesinha ao lado da maca e olha bem no fundo da caixinha de papel, pega o último cigarro e o segura na ponta dos dedos.Você encara ele de frente pela primeira vez . Então você pendura ele no canto dos lábios e acende com o fogo estável do seu esqueiro uma vez mais. E traga. E traga com vontade a melhor dose de tristeza da sua vida. Porque  é finalmente a última. A saidera da morte ,é a tristeza.


13/07/2011

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