sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Anjo Negro - Uma Luta de Cor Rodriguiana

O Anjo Negro, 2012. Cia. Mosaico.
Ontem fui assistir à peça Anjo Negro. Fiquei tão maravilhada com a peça Gonzagão que assisti na sexta-feira passada, que achei que valia outra visita ao Sesc Ginástico para mais uma.

Cheguei cedo, comprei meu ingresso, e fiquei lendo um livro enquanto não chegava a hora do espetáculo. Como era uma terça-feira às 19h, acho que não compareceram mais de 30 pessoas ao teatro. Eu tenho essa mania de sentar na frente para receber a informação primeiro, então escolhi a terceira fileira - e isso era tão perto que eu precisava inclinar a cabeça para cima para ver os atores. E cara, que atores vigorosos! Dava para ver que eles davam tudo de si em cena, e tinha algo de peculiar neles, uma substância incomum. No final da peça, acabei descobrindo que a Companhia Mosaico é de Cuiabá (MT), ou seja, haviam saído de tão longe, para encenar essa peça - com texto do Nelson Rodrigues – aqui no Rio. Fico pensando o quão difícil é ser ator. A peça é longa, com muitas falas, diversas cenas dramáticas, jogos de corpos, canto, dança, um desce-e-sobe no cenário, que fiquei cansada só de ver. E pensar que eles faziam aquilo todas as terças e quartas!

Bem, a história da peça é mais ou menos o seguinte: Ismael é um homem rico, poderoso e de pele negra, que possui violentamente Virgínia, uma mulher linda e de pele branca, mas que é com ele casada a força. A trama da peça é sustentada pelo embate travado entre Virgínia e Ismael. Texto de Nelson Rodrigues. Encenação de Sandro Lucose. (programação Sesc Rio Nov/2012)

Nelson Rodrigues

A peça tem aquele tom noir que o Nelson sabia empregar com maestria e o enredo é bem denso. Mas acredito que ao contrário da peça Gonzagão, essa não recebeu um grande investimento para acontecer, o que foi um choque de certa forma. Na sexta, assisti uma peça mirabolante: riquíssima em iluminação, figurino, sonoplastia e elenco. E apenas 4 dias depois no mesmo lugar tudo era mais simples: iluminação mais modesta, figurino menos elaborado, sonoplastia natural e um elenco menor. O que de certa forma me fez respeitar muito os atores que estavam ali, afinal eles tiveram que se virar com pouco, no estilo característico brasileiro. Possuir um grande investimento para desenvolver seus talentos e habilidades faz uma grande diferença.



O Palhaço, 2011. Selton Melo.
Não sei porque, mas essas Companhias de Teatro, me lembram um pouco as trupes circenses de filmes como La Estrada e O Palhaço, essa coisa itinerante, pura, sofrida e mágica. Acho que as pessoas deveriam desligar suas TV’s e irem mais ao teatro, para compreenderem a beleza da dramaturgia, sabe? Sair dessa leitura fácil da vida, desse padrão estético e artístico conveniente e conveniado, enfim, experimentar outras formas de pensar. Assistir uma peça como Anjo Negro, é treinar o cérebro exercitando os sentidos... porque o que se ouve, cheira e vê não é comum, não é de fácil digestão mental e visual.


                     As pessoas deveriam ir mais ao teatro para se transformarem em outras.

La Estrada, 1954. Fellini


Leia mais sobre a peça em: http://www.teatromosaico.com.br/

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