domingo, 30 de setembro de 2012

Três Programas Imperdíveis no CCBB RJ


- Viva Elis

A exposição multimídia Viva Elis apresenta, em três núcleos que abordam diferentes fases da vida e da carreira de Elis, projeções, videoclipes, documentários, especiais de televisão, réplicas de vestidos e reproduções de artigos de jornais e revistas da época.

Admito que nunca acompanhei de perto as obras da Elis, mais gosto bastante das músicas que cheguei a ouvir, e da maneira como ela se portava no palco, sempre com espontaneidade e entrega. Acredito que em época de cantores e cantoras de tão má qualidade, é preciso relembrar que o nosso país já produziu cantores e cantoras absurdamente bons. O que de fato gera esperança para o futuro. Aproveitando o ensejo aproveito para recomendar outra exposição, que está acontecendo no Centro Cultural dos Correio, “Gil 70”, em referencia ao grande cantor baiano. A única pena é que encerra cedo, às 19h. Bem, sobre a exposição da Elis Regina, tenho algumas dicas para dar, que acredito farão a experiência mais agradável.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Beaten in the Heart - Ariana Mendonça


Neal, me dá uma carona e me leva pra longe? 
Siga dirigindo comendo a estrada, rasgando aquela linha branca
enquanto o Jack vai dormindo no banco traseiro e acorda só pra me contar um haiku.
A estrada, a estrada, on the road
uma breve inspiração
a possibilidade de respiração
eu sou livre.


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Me escolhi para viver - Ariana Mendonça


Escrever para que?
Meu escrever não serve pra nada
Pé na estrada, povo...
Não tem peso, nem influência
Toda letra que vem se acaba.

Para que falar?
Meu falar não convence ninguém
Para que gastar fôlego, saliva
Se minhas palavras vão e vem?

Eu não quero mais buscar
o que falta em mim, enfim
Cansei de esperar por nada
Essa mudança não muda a mim

Então para que desgastar energia
esforço, força, tesão?
Desperdiçar lentamente sem pena
o que restou da minha falta de coração.

Não temo mais expressar o que sou
Eu vou gritar, eu vou escrever!
Nunca tive medo de ficar sozinha
porque eu me escolhi para viver.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Qual a função da casa no mundo moderno? - Ariana Mendonça

Se no passado a finalidade da casa era proteger os seus moradores dos predadores e das intempéries, nos dias de hoje ganha uma nova conotação.Olhe em volta. A casa agora é o lugar onde todo o nosso consumo e nossa identidade se concentram. Ela abriga nossas roupas, sapatos, TV, computador, cama, etc. A cor das paredes serve para acalmar. O lixo deve ser reciclado. O teto rebaixado é para parecer mais aconchegante. O piso é termostático. Enfim, a casa é o pequeno mundinho hedonista micro-estruturado do ser humano. Maravilha da modernidade!

No passado não havia motivos para se manter dentro de casa.Afinal ela não era tão confortavel como o é hoje. Antes saíamos para ver gente, para confraternizar. Hoje isso não é mais necessário. Se o computador conecta, o celular localiza e a televisão informa quem precisa de fibra moral? Nós temos a óptica.





domingo, 23 de setembro de 2012

Poesia CazuziAna

Minha Play List ultimamente está composta de Legião Urbana e Cazuza, mas o foco caiu sobre o Cazuza. Acho que por sintonia cósmica ou talvez por compartilharmos o mesmo signo (Áries) eu entendo bem tudo o que ele diz, e ele por vez me traduz perfeitamente. É tão gostosa essa sensação de cantar junto com os sentimentos emparelhados... e no nosso caso, também aproveitar para gritar e sussurrar baixinho, xingar o mundo, esgarçar o amor e a vida, implicar com a sociedade e meter o pau em si próprio. Fazemos ambos, isso TUDO junto e muito bem, obrigado baby. Queria ter sido sua amiga de travesseiro em vida, Cazuza. Se não pude, ainda te ouço, colada ao travesseiro e cantando baixinho: "Mal nenhum...a não ser a mim mesmo, a não ser a mim mesmo,Aaaa Aaaaa..."

Destaquei essas 3 por serem as mais fodas, sendo repetidas à exaustão nos meus ouvidos deliciados



Minhas tardes com Xena - Ariana Mendonça



Quero e sou a amazona de Toni Wolff
Ambiciosa, independente e forte
Meus olhos doces não choram
Mais que uma chuva fina de dor
Quando o amado me deixa
Eu nem mato nem morro
Apenas sorrio e saio a caça novamente
Na selva de pedra, meu coração é rocha
Extirpo o seio, secamente
Para trabalhar melhor o arco e flecha.

Tão difícil ser essa mulher que
Ateia fogo e sorri
Que não vibra e nem chora com o amor.
Pra quem amor é gênero de filme de cinema
Ser essa amazona que vibra frente ao desconhecido
Pisa a terra firme
Doma cavalo bravo

Salta em rio revolto
de blusa branca
ou nua em pêlo
E sublima com o conhecimento
se apaixona pelo saber e
goza o prazer nas letras.

Ah, tão complicado ser moça corajosa
Amazonas são sempre tão mal interpretadas
Todos querem por um avental na nossa cintura
Prometem casa, estabilidade e segurança
Mas quem iria querer isso?

A gente nem mata nem morre
Amarra o avental na altura do nariz,
À la velho-oeste
Tapa o rosto
E sai pra salvar o mocinho. 

Charles Bukowski - The Edge

1975-07-22. the  edge
Ela foi de um homem importante
à outro
De cama em cama
(e às vezes fora da cama)
de homem para homem
Homens importantes da sociedade:
políticos, atletas, artistas
advogados, médicos, famosos
produtores, financistas
e todos os deram coisas:
presentes, dinheiro, publicações e
aparência, etc
Mas quando ela morreu de repente
às 3:20h
os únicos no seu funeral foram
um tio da Virgínia
seu apostador
seu traficante
um bartender
e vários empregados contratados para as rotinas do cemitério
mas ela manteve
dois coringas finais:
ela nunca trabalhou 8 horas por dia
e eles a enterraram com todo o ouro nos dentes.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Agência 3307 - Ariana Mendonça

Saudade.1899.Almeida Junior.
Ando me parecendo cada vez mais com os personagens dos meus livros. Pode ser pura coincidência. Mas pode ser também um tipo de redenção prévia, de forma a preparar minha alma e intelecto para o futuro. Assim, quando algo me ocorrer, eu saberei que já vi isso antes. Então me sentirei menos miserável, e talvez mais preparada (ou amparada) pelo poder do conhecimento primário. Ou apenas por talvez não ser, a única fudida na história. Nada mais real que a literatura ficcional.

Digo isso porque as pessoas que conheço parecem demasiadamente longe de mim, bem menos cheias de dilemas e becos existênciais. A minha vida me parece bem pior do que as demais vidas. Engraçado ser desgraçada. A sem graça. Sem absolvição. Talvez eu devesse virar escritora. Porque se os seres humanos normais são estranhos ímpares, os escritores devem ser só estranhos. Nem pares, nem ímpares, nem porra nenhuma.

Sentada no bar. Tomar uma cerveja é a única maneira de fazer as coisas parecerem menos anormais. Eu deixo minhas marcas na mesa. A vida deixa suas marcas em mim. Esse mundo não faz sentido nenhum. E quem se importa? Cada pedaço de papel agora faz sentido.
       
Figure at a Window. 1925. Dalí.
Pessoas verificando o resultado do jogo do bicho sob a minha cabeça que eu não sei se é galhuda ou se galha. Vida confusa de merda. É impressionante como as pessoas velhas bebem, tanto ou mais que eu. Acho que bem mais que eu. Isso é um atestado de que a vida é desesperadora em qualquer idade, desde quando você nasce até quando você morre. Temerária. Está todo mundo tentando pular fora dela. E quem entende o que eu digo? Não dá para ter saudade de um. E as pessoas velhas também fumam, todo mundo está querendo se matar mais rápido do que é possível. A juventude não tem beleza nenhuma, pode acreditar em mim. Os animais talvez tenham alguma graça. Pessoas revirando o lixo, e presas no trânsito, velhas recauchutadas uma falando mal da outra. O que tem de bela na vida, Benigni ? Um tumor benigno talvez. Ruim, mas benigno. Ou não, porque ela te mata. No final.
        
Minha cota de cigarros chegou ao fim. Latas voam, latas voam. Latas velhas nunca passam por aqui. Só por onde vim. Será que um dia alguém irá interpretar o que escrevi? Decerto nem chegarão perto. E todos os velhos se matam junto comigo. E quando nem a cerveja fizer mais sentido o que será de mim? Eu nunca consegui olhar a podridão e me sentir melhor. Porque deveria? Tem tanta gente que se conforta no pior dos outros. É algo que não me entra na cabeça. Pela primeira vez na vida eu não estou preocupada com ninguém além de mim. Deus, eu só quero nunca engravidar,para não ser culpada de botar mais vida nessa falta de humanidade. As mulheres realmente interessantes passam e nenhum homem repara. Eles só querem as putas. Eu não sou puta nem santa. Não sei o que farão comigo. Não sei o que fazer de mim.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Vidas Roubadas

Fui roubada. Levaram-me tudo. T-U-D-O. Deixaram me apenas a calcinha. E o que cobria o resto. Dentro da minha linda, azul e recém-comprada bolsa na 25 de março estava minha vida: celular, chaves, maquiagem, tercinho, fotos da viagem, cabo USB, lixa de unha com valor sentimental, documentos (todos eles). Tem idéia do que é perder de uma só vez:

  • Identidade
  • CPF
  • Cartão de Poupança
  • Cartão de Crédito
  • Cartão Conta-Salário
  • Cartão Rio Card
  • Cartão Bilhete Único
  • Titulo de Eleitor
  • Carteirinha do Sesc
  • Carteira da minha antiga faculdade
  • Cartão do Plano de Saúde
  • E finalmente o maldito do Ticket Restaurante.

Ruim? Pior que isso é ninguém dar a mínima. Pior que isso é não poder fazer cara feia nos corredores da vida. Pior que isso é ter crise de ansiedade e parar no médico. Pior que tudo é ter que tomar calmante para não enlouquecer, coisa que nunca pensei na vida (tomar calmante, me refiro). Pior de tudo é ouvir do RH que a 2ª via dos cartões perdidos vinculados à empresa tem uma taxinha. Taxa que deveria referenciar valores simbólicos. Mas o mundo (e principalmente a Fetranspor) é cruel, e essas nada-taxinhas serão debitadas diretamente do meu magro contra-cheque. Pior que isso? Bancos em greve amanhã.
Eu vou gastar três vezes mais  pra recuperar os meus pertences do que o filha-da-puta do ladrão lucrou com a minha bolsa inteirinha (mesmo que ele decida vender até a caneta bic que tinha lá dentro).

Sério, povo. Pior também é ouvir os malditos clichês que todo mundo diz, mesmo que seja de coração:
" Ah, ainda bem que não foi nada mais violento"
" Ah meu pai (papagaio, cachorro, vó, tia) também foi assaltado e levaram tudo dele, blá, blá, blá"
" Não fica assim não"
"Não fica assim não [com variação] documento você tira tudo de novo, acontece"
" Quem sabe uma boa alma não acha seus documentos e te entrega? Espera um pouco..."
" É, mas é isso mesmo, tem que agradecer que ainda está viva..."

Eu sempre preferi me manter quieta, do que soltar esses clichês ... porque quer saber, não adianta nada. Frase feita não toca a alma de ninguém, na minha sequer resvala. No fundo, pra mim está todo mundo pensando: "Ainda bem que não foi comigo". Contar uma mazela, não é necessariamente pedir ao outro para ser seu psicólogo. Ele tem o direito de ficar calado, ou de sequer se interessar pela sua desgraça.

Sabe o que importa de verdade? É te olharem no olho. É te ouvirem contar a história toda até o fim e nos mínimos detalhes. O que conta é um abraço apertado, ainda que sem palavra alguma de consolo. O que importa é dizerem: "Se eu encontrar esse safado na rua eu bato pra você" (e te fazer sorrir). O que conta é te ligarem e perguntarem: "Como você está? Pergunta idiota, deve tá uma merda, quer que eu te leve um pote de 1kg? flocos ou morango?"

O que importa é sentir que no meio do caos nada humanitário da humanidade você ainda é ALGUÉM, e melhor ainda, um alguém que importa para outros ALGUÉNS. Ainda que sejamos mais um nas estatísticas (quem nunca foi, ou teve um conhecido roubado, assaltado, furtado, assassinado?) SO-LI-DA-RI-E-DA-DE. Porque somos a UNIDADE da estatística.Somos sim: estranhos ímpares. E "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..." como já dizia  Caetano.

Queria agradecer o Mário, a Rachel e a minha mãe.

E daí o ticketizinho povo?
Bem por causa do roubo decidi entrar no site do Ticket Restaurante pra descobrir como cancelar o bendito cartão. E sabe o que eu descobri? Que sou mais "lesada" pela empresa do que pelos pivetes da rua. Quero dizer, eles não levam minha bolsa, mas maltratam bastante meu estômago.

Trabalho em Botafogo, pólo gastronômico da Zona Sul da cidade Maravilhodiosa. Quanto vocês acham que em média eu deveria gastar para pagar meu almoço? Foi isso que o lindo site  me ajudou a descobrir, e eis os fatos:





O que é: As pesquisas realizadas pela Assert* e pelo Dieese** divulgam os valores médios de refeição e alimentação oferecidos aos trabalhadores, divididos por região.Objetivos [...]levantar o valor médio da refeição no horário do almoço em diferentes localidades do Brasil. 

Vantagens :Investir no Ticket Restaurante® e no Ticket Alimentação® como um benefício de valor compatível ou superior à média apontada pelas pesquisas mostra que sua empresa acredita no bom relacionamento com os seus funcionários.

Por que aumentar: Aumento da produtividade dos funcionários; Melhoria na qualidade de vida do trabalhador;Retenção de funcionários;Devolução de até 40% do valor investido.

A Equação
Preço Médio da Zona Sul do RJ = R$ 25,89
Preço Médio do meu benefício = 15,76


Fiquei basicamente a martelar a seguinte frase na cabeça: "acredita no bom relacionamento com os seus funcionários..." hum....

Isso me leva a pensar que a gente é roubada tantas vezes, em tantos lugares diferentes e de formas tão variadas que o único jeito de não ser lesada é abandonar o apego material a qualquer coisa e virar hippie.



Boa sorte pra não morrer de fome e segurem suas bolsas!


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Preciso de Férias! - Scott Adams

Como nessa vida é preciso variar e também forçar risadas quando elas não vem naturalmente, decidi comprar um livro de quadrinhos do Dilbert. Não sei o quanto o Dilbert é conhecido aqui no Brasil, eu o conheci primeiro através do desenho animado que passava na extinta Fox Kids tarde da noite nos idos do ano de 2003 . Para quem não conhece, segue um trecho que retirei do site da L&PM: “Indignado com o mundo corporativo, ele (Scott Adams) resolveu usar a caneta para se vingar da ex-vida-dura e, desempregado, começou a criar cartuns que satirizavam o mundo dos negócios. Foi assim que, em 1989, em plena era yuppie, nasceu o personagem Dilbert.” Lembro que adorava o desenho, porque todos os personagens eram mordazes e irônicos (mal sabia eu, que não fica muito longe da vida real de uma empresa) embora eu ainda fosse uma estudante do ensino fundamental, muito longe portanto, do mercado de trabalho. Atualmente sou funcionária de uma empresa que vende sistemas e “inteligência” (risada interna). Imagina o nível de identificação que atingi ao reencontrar esse quadrinho nos dias de hoje?!

dilbertbrasil.blogspot.com.br
O Dilbert, esse aí de cima, é o personagem principal da tirinha. Ele tem 30 anos, é engenheiro e trabalha numa empresa californiana de alta tecnologia. Prefere os computadores às pessoas. Trabalha fechado em cubículos, veste roupas sem graça e a sua barriguinha revela as longas horas de trabalho sedentário. É o mais famoso da família Adams. Vive com o seu cão, Dogbert (se bem é mais exato dizer que seja Dogbert quem possui Dilbert, dada a relação debochadamente assimétrica entre os dois - por "assimétrica" leia-se: Dogbert manipula a Dilbert sem que este ou perceba, ou reconheça).”

          Acabei comprando o livro “Preciso de Férias!”, enquanto perambulava pela Av. Paulista, em uma viagem que fiz recentemente à São Paulo. Ri boa parte da noite.  Gargalhei em dobro quando comecei a associar os personagens aos meus colegas de trabalho (não conto nem se tiver a vida ameaçada quem é quem) e percebi o quanto é bom fazer piada de si mesmo, e da própria desgraça.

         Eu que sou tão séria e focada na maior parte do tempo acabo me exaurindo por coisas que não valem a pena, enquanto esqueço de prestar atenção e sorrir para as pessoas que de fato importam na minha vida. Sei que isso também deve ocorrer com boa parte das pessoas, que assim como eu, são sugadas pelo trabalho. Hoje em dia quem não é? Uma em cada dez pessoas ama seu trabalho, os 90% restantes o fazem pela grana, que quase sempre é insuficiente. Ou seja, a única motivação que você TEM para trabalhar quase nunca o SATISFAZ. 

           É como comer quilos de jiló por mês porque faz bem a saúde, e no final perceber que se ganhou 3 segundos à mais de vida/mês. Eu abriria mão desses míseros segundos e teria ido comer uma costelinha no Outback!! A pena é que simplesmente não podemos abrir mão do trabalho, porque não se vive no mundo real sem grana, portanto, batalhamos arduamente por esses "3 míseros segundos", correndo atrás do próprio rabo de segunda à sexta-feira. Aproveitando o momento oportuno vou parafrasear Bukowski em uma de suas melhores conclusões:  "Como, diabos, pode um homem gostar de ser acordado às 6h30 da manhã por um despertador, sair da cama, vestir-se, alimentar-se à força, cagar, mijar, escovar os dentes e os cabelos, enfrentar o tráfego para chegar a um lugar onde essencialmente o que fará é encher de dinheiro o bolso de outro sujeito e ainda por cima ser obrigado a mostrar gratidão por receber essa oportunidade?( Factótum, pág.107)”

                                                                                                                                                                             dilbertbrasil.blogspot.com.br
        Por todos esses pensamentos, gargalhadas e epifanias decidi que o Dilbert merecia um post. Pode não ser literatura, mas para mim é poesia. Afinal, poesia é tudo aquilo que eleva o espírito, seja através de lágrimas ou sorrisos. Dessa vez, benditos sejam os deuses, fui elevada à um semi-nirvana por gargalhadas sonoras. 

Finalmente, gostaria de agradecer ao meu chefe e colegas de trabalho. É por vocês que estou aqui :D




Se você quiser curtir algumas tirinhas do Dilbert, existe um blog bem legal que traduz algumas para o português:          dilbertbrasil.blogspot.com.br








Fontes:

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Medíocre soCIeDADE - Ariana Medonça


Existe esse tipo de gente que não se emociona com nada
Que não sorri com um Drummond
Que não aquiesce frente a um Monet
Que não sublima ao som de Debussy
Que silencia com Rimbaud
E que emudece junto à Ginsberg

Esse tipo de gente não se importa com nada
Com exceção da alta ou queda da Bovespa

É o tipo de gente que se empertiga com,
ocupações em Wall Street
marchas na praia de Copacabana
movimentos de caras pintadas
passeatas ambientalistas
porque eles bloqueiam o trânsito

Porque esse é o tipinho de gente,
Que precisa chegar em casa às 19h30 em ponto
Pra assistir a novela
E chorar com a morte do mocinho

Porque coisas como,
A fome na Etiópia
As mortes na Palestina
os estupros corretivos na África do Sul
o infanticídio na China
a seca do Nordeste
a corrupção em Brasília
o silencio da esposa no quarto ao lado.
não são suficientemente comoventes.

Esse tipo de gente não se emociona com nada,
E por um lado é aceitável
Porque esse mundo é tão cão
Tão bruto
Tão desmedido

Que é fácil sentir raiva
E é tão fácil concordar
E não fazer nada
Porque nada e tudo, parecem nunca funcionar
Coisas e pessoas interrompidas

Eu me salvo através da arte, da arte
de qualquer tipo
da boa ou da ruim
Pois a arte qualquer é menos vazia
Do que a sua ausência
A arte e a fé são receptáculos únicos do significado da vida
Porque justamente não buscam convencimento algum
Elas são o prazer e o nirvana em si
O acesso é gratuito como o pé de manga no quintal.

Mas sempre existirá gente que não se comove com porra nenhuma
E eu não me comovo por eles
Sentados nas suas confortavéis poltronas
Com sua imitação de Picasso pendurada na parede
Sentindo que de alguma forma se identificam
Com o distorcido na tela
Sem entender bem o porquê
E sem saco para racionalizar sobre isso
Porque logo-logo o vilão vai aparecer
Para matar o mocinho
Esse é momento em que seu coração late
Vivendo a vida dos outros
Vida medíocre de Manoel Carlos

Sigo com,
Manoel de Barros
E é bom o suficiente para mim.









segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Nada - Ariana Mendonça


Escrevi essa poesia quando tinha 14 anos, dá pra acreditar? Acho que mereço um desconto pela pouca idade. Gosto dela, porque quando releio sinto um tom de desleixo, de ostracismo, de indiferença... Percebo que com a minha escrita eu estava me tornando o que sou agora. Já dava para perceber os leves tons da minha paleta. Mas me pergunto: Em que eu estava pensando quando escrevi essas palavras?
... Provavelmente em NADA.

domingo, 2 de setembro de 2012

Elisa Lucinda


O nome dessa poesia é Lilith Balangandã. O que posso falar da Lucinda? Conheci suas poesias, em um sarau da faculdade que fizemos na praia. Dois dos seus livros apareceram na roda, e alguém disse: "Ariana, Ariana, você é a pessoa para recitar isso. VOCÊ tem que ler!" E meu contato foi esse, li aquelas poesias em voz alta pela primeira vez (para mim mesma) e para todos que estavam ali. Completamente despudorada. O nível etílico lá pelas tantas também ajudou... Lembro-me que a poesia que li, foi essa que segue abaixo (imagina só, eu nem sabia o que estava por vir quando comecei a ler)...

Lambe Lambe

Passam muitas pessoas no saguão dos aeroportos.
Passam neste aeroporto da agora, 
e eu, no meu pensamento,
não me comporto, imagino elas fodendo:
fulano com fulano,
são casados, gozam, fazem planos?
E ela, quer logo que acabe?
E ele, penetra rosnando?
Fantasio as inúmeras possibilidades de encaixes,
em como foram as noites de amor que tiveram para fazer essas 
crianças chinesas africanas alemãs francesas mexicanas libanesas
brasileiras cabo-verdianas espanholas cubanas holandesas 
senegalesas turcas e gregas.


(meu pensamento é inconveniente mas ninguém sabe,
escrevo num café, estou, por fora, muito chique no cenário
e nitidamente estrangeira.)


Agora passam dois homens.
Sentam à mesa ao lado.


Falam germânico mas a tradução é da mais alta putaria,
Uma iguaria da mais pura sacanagem!
Eu sei, são gays. Eles não sabem que eu sei.
Pensam que escrevo o abstrato
E capricham descansados ao colo do idioma que não alcanço.
Mas sou poliglota na linguagem dos molhares,
cílios a mais antiga cortina do mais antigo teatro
na pátria universal dos gestos, meu bem!
Eles não escapam.
Um chupa muito o outro, que eu sei,
e o magrinho gosta de dar por cima e de lado.
Importante dizer que dentro desse meu pensamento safado
também não tem pecado.
Só me diverte
Ver o que todos negam,
O que não se diz no social,
Uma radiografia verbal da intimidade alheia é o que faço aqui,
Sem que ninguém suspeite,
Sem ninguém me permitir.


Aquele tem pau pequeno e, pior que isso,
e, mais que suas parceiras, acha isso um problema.
Aquele ali também tem, mas arde na cama e se empenha muito
compensando a diferença.
Aquela, num outro esquema,
diz não gostar da coisa
e fala sem parar.
Só uma pirocada de jeito para fazê-la calar.
A gostosa gordinha engole a espada todinha
daquele altão desajeitado,
cujo grosso membro se torna,
em meio às coxas dela, disfarçado.


E o velhinho punheteiro
De pau mole com jornal no colo?
Talvez seja o único a adivinhar o teor dos meus escritos,
dado que me olha dissimulado e constante
de modo a nunca perder meus segredos de vista.

(Com licença mas é dessa matéria hoje minha poesia)


Enxerida, vejo a mulher com cabelo cortado à la moicano
Com a menina que iniciara a tiracolo,
Feliz sem ser por ela lambida
E sem saber no que estou pensando.


Passam as pessoas
no saguão do aeroporto,
fingem que fazem check-in
fingem viajar sérias e de férias,
fingem estar trabalhando...
mentira,
pra mim ta todo mundo trepando!

.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...