terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Espere a Primavera, Bandini & 1933 Foi um ano ruim - John Fante



John Fante (1909-1983)
Americano
Sabe aquele sujeito derrotista, desafortunado e que tem uma vida absolutamente desinteressante? E que apesar dessa gama de defeitos você consegue gostar e continua encontrando para conversar, porque ele tem simplesmente algo que te faz querer continuar? Pois bem, esse “sujeito” são os livros do John Fante para mim.
    Pelo que pude perceber através de suas obras sempre um tanto biográficas, o autor não teve uma vida muito fácil. A hostilidade da vida é uma constante na escrita de Fante. Portanto, é um pouco inevitável não se sentir levemente triste e desgostoso ao ler seus livros. Mas acho que me mantenho reincidente na leitura, porque sei que é verdade: a vida é hostil, dura e implacável. Para defender a sua beleza e encanto, sobram livros, letras de músicas e poesias, contudo ser capaz de admitir que a vida não é boa e nem justa e que viver é um sacrifício é uma coragem pertencente à poucos. Afinal, quem quer viver sob o signo da desesperança? Por esse motivo eu admiro os escritores desesperançados e/ou pessimistas, que sabem aproveitam as tristezas da vida e delas retirar alguma arte.
    No livro “1933 foi um ano ruim” Fante conta a história de Dominic Molise, o filho mais velho de uma família composta de um pai pedreiro (Peter Molise), de uma mãe dona de casa altamente religiosa e de três irmãos: August, Clara e Frederick. Seus pais são imigrantes italianos e a história se passa em Roper (Colorado). Dominic tem o sonho de se tornar um grande arremessador de baseball, graças a potência de seu braço esquerdo, o qual apelida carinhosamente de “O Braço”. O rapaz sonha largar o frio e a pobreza de sua cidade natal, e ir para o calor da Califórnia perseguir seu sonho. O livro narra os pensamentos e a vida desse garoto, envoltas da religiosidade do colégio católico em que estuda, do seu amor pela garota rica e bonita da cidade, a relação conturbada com seu pai e as dificuldades financeiras da família. É basicamente a história de um garoto pobre e simples que almeja o estrelato. Mais adianto que não é uma história convencional, repleta de clichês. É antes um hino do cotidiano de muitos americanos, imigrantes ou não, que viveram por volta dos complicados anos 20 e 30 nos Estados Unidos. Acredito que para os brasileiros - crescidos a base dos enlatados americanos que esbanjam riqueza, beleza e diversão – é uma boa dose de realidade.
    “Espere a primavera, Bandini” conta a história de Svevo Bandini um pedreiro bruto e mal- humorado, que passa dificuldades durante o inverno em Rocklin (Colorado). O homem possui uma esposa devotada chamada Maria e três filhos: August, Arturo e Federico. Alguma semelhança? Svevo é viciado em jogos e por causa do inverno não consegue trabalhar, vive por isso em grande dificuldade financeira. Um dia acaba sumindo de casa e é visto pelo filho na companhia de uma mulher rica da cidade. A narração é feita oras por Svevo e oras pelo filho Arturo. O que a gente fica tentando saber é porque o homem sumiu, abandonando a mulher e os filhos à miséria. A gente fica querendo saber se ele é um crápula ou não. Não vou contar para não estragar, mas adianto que o final é emocionante. Admito que não lembro detalhes, porque li esse livro tão rápido, que o terminei em 2 dias. Esse é o livro do autor que mais gostei.
       Não considero John Fante um escritor fabuloso, embora ele tenha definitivamente os seus méritos. Acontece que, há algo na literatura dele que me faz continuar a comprar e ler, comprar e ler... e eu não sei bem o porquê. Honestamente, posso apenas dizer de onde partiu o interesse inicial: ele foi um dos autores preferidos do Bukowski. E o Bukowski nunca gostou de autores vivos. O fato é que o Bukowski é o meu autor pessimista/sarcástico preferido. Ouso dizer que é o meu preferido dentre todos os tipos de autores possíveis.
    E o John é tão desesperançado em relação à vida quanto o velho Bulk, com a única diferença que ele não tem o mesmo sarcasmo e agressividade de redação que esse último. Apesar disso eu gosto do fato dele ser um filho de imigrantes italianos, de ter abandonado a faculdade, de escrever através de alter-egos, da influência do catolicismo na sua literatura, eu amo saber que apesar de ter ficado cego no final da sua vida ele continuou escrevendo através das mãos e dos olhos da sua esposa Joyce. De certa maneira eu vejo um pouco de mim nele: a desesperança, a origem humilde, a necessidade de escrever que ele teve, é a mesma que eu tenho de ler. Ele não parou, eu também não vou parar. Além do mais eu amo o título dos seus livros “Pergunte ao pó” “O caminho de Los Angeles” “Espere a Primavera, Bandini” são nomes tão profundos e musicais aos meus ouvidos. E eu não sou uma pessoa musical. Então, por desencavar amores que não costumamos ter, tenho certeza que o Bukowski se ainda vivo, ergueria o copo comigo num brinde a John Fante!
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Um pouco sobre o autor...
Biografia
8 de abril de 1909 - John Fante nasceu em Denver, Colorado,de uma família de imigrantes italianos. Seu pai Nick Fante,originário de Torricella Peligna, era um pedreiro e sua mãeMaria Capolungo nasceu em Chicago também de pais italianos.Sua infância foi muito pobre. John passou seus primeiros anos em Boulder, uma escola católica e, posteriormente em uma faculdade na Universidade do Colorado.
1932 - Se mudou para Los Angeles, onde teve uma série de trabalhos diferentes. The American Mercury publicou uma de suas histórias.
1937 - Casou-se com Joyce Smart, dando a ele quatro filhos. Ele começou a trabalhar como roteirista de Hollywood.
1938 - Fante publicou seu primeiro romance, "Wait Until Spring,Bandini"
1939 - "Pergunte ao Pó" apareceu
1940 - Dago Red, uma coleção de contos, foi publicado.
1952 - "Full of Life" e apareceu o script dele recebeu uma indicação ao Oscar.
1955 - Ficou doente com diabetes
1957 - Foi para a Itália e trabalhou como roteirista para Dino De Laurentiis.
1977 - Ficou cego por causa do diabetes e nos anos seguintes também perdeu suas pernas, seus últimos romance "Sonhos deBunker Hill" foi ditado para sua esposa
08 de maio de 1983 - John Fante morreu em 74, deixando muitos trabalhos inéditos. Nos últimos anos ele tem sido amplamente reconhecido como um romancista do século 20 de excelente nível internacional.


Bibliografia
Publicados no Brasil:
Espere a primavera, Bandini. Brasilense, 1990. José Olympio, 2003.
Pergunte ao pó. Brasiliense, 1984. José Olympio, 2003.
Sonhos de Bunker Hill. Brasiliense, 1985. L&PM Pocket, 2003.
1933 foi um ano ruim. Brasiliense, 1990. L&PM Pocket, 2003.
Rumo a Los Angeles. Brasiliense, 1989.
A oeste de Roma. Brasiliense, 1990.
O vinho da juventude. Brasiliense, 1991.
Publicados no EUA:
Wait Until Spring, Bandini. Stackpole, 1938.
Ask the Dust. Stackpole, 1939.
Dago Red. Viking Press, 1940. (posteriormente incluído em 'The Wine of Youth')
Full of Life. Little, Brown and Co., 1952.
Bravo, Burro! (em co-autoria com Rudolf Borchert e Marilyn Hirsh), 1970.
The Brotherhood of Grape. Houghton Mifflin Co., 1977.
Dreams from Bunker Hill. Black Saprrow Press, 1982.
1933 Was a Bad Year. Black Sparrow Press 1985.
The Road to Los Angeles. Black Sparrow Press, 1985.
The Wine of Youth. Black Sparrow Press, 1985.
West of Rome. Black Sparrow Press, 1986.
Prologue to 'Ask the Dust', 1990. (posteriormente incluído em 'The Big Hunger')
The Big Hunger. Ecco, 2000.
The Bandini Quartet. Canongate, 2004.




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