quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Filme - Rendez Vous

Pessoal,

Assisti esse filme e decidi compartilhar com vocês. Busquei sem pretensões e acabou sendo um ótimo entretenimento para uma quarta à noite. Recomendo assisti-lo com uma taça de vinho branco, porque realmente cae bem.

A história é basicamente a seguinte: uma família holandesa se muda para a França, após a morte da mãe de Simone - a protagonista da história - que deixa uma velha casa como herança. Enquanto a família tenta se adaptar à cultura francesa e a reforma da casa, logo, eles tem que contratar trabalhadores para a reforma e as coisas começam a sair de controle.

Basta dizer que um dos trabalhadores é um gato, ao estilo francês... branco, nariz adunco, cabelos pretos e lisos, corpo magro e definido... Então você pode imaginar que rumo essa história vai tomar.




A única coisa que me indignou um pouco foi a postura de Simone em relação aos homens, sempre submissa e fraca, para uma mulher europeia eu esperava um pouco mais. Só que acho que faz parte da história.

 
Enfim, é apenas uma indicação.. não é que o filme valha um Oscar, mas é interessante, e tem uma bela fotografia

Se quiser assistir online, pode acessar esse link:
http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-rendez-vous-legendado-online.html




domingo, 3 de maio de 2015

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Homens, mulheres e Filhos - Filme



Acabei de assistir esse filme e corri para fazer essa resenha, porque não quero deixá-lo cair no esquecimento. Filme bom hoje em dia é raro, então decidi compartilhar com vocês.

A história mostra a vida de alguns adolescentes e suas famílias, analisando como os jovens  e os adultos de hoje em dia se comportam e evoluem, a partir da dualidade do mundo virtual x o mundo real.

Por exemplo, enquanto uma das meninas é vigiada 24 horas pela sua mãe - que teme excessivamente os perigos da internet, outra, acaba sendo exposta pornograficamente pela própria mãe, através de um site. Um garoto após ser abandonado pela mãe perde o referencial e acaba encontrando no mundo real uma centelha de esperança. Enquanto outro, após ser exposto à tanta pornografia virtual, acaba não conseguindo se excitar com meninas reais.

É assim, apresentando histórias assimétricas e ainda assim interligadas, que somos postos à refletir sobre essa nova realidade que vivemos.
Parece pouco, mas a internet, foi um passo longo, longo, talvez maior que nossas perninhas. E agora, precisamos aprender a nos ajustar rapidamente ao que queremos de nós mesmos e ao que os outros esperam de nós, virtual e realmente.

A preocupação maior é com aqueles que já nascem com o computador na mão. Esses que com 3 ou 5 anos de idade, já possuem total acesso à (toda/qualquer) informação. Como eles podem diferenciar o virtual do real se isso nunca de fato foi divido? Como eles podem valorar o contato humano, se no dia-a-dia eles já estão "rodeados" de tantos amigos virtualmente? Como mostrar para eles que a vida real é de fato a real, e que a virtualidade é apenas uma tentativa de viver a vida melhorada - o que não necessariamente à torna melhor?

Opiniões à parte, o que o filme tenta mostrar, é que o que fazemos fora da tela é o que importa. As pessoas de carne e osso importam. Sorrisos, abraços e toques importam. E são de fato, insubstituíveis.

Devemos temer, odiar, amar, fugir ou acreditar no poder que esse novo mundo de possibilidade nos traz?

Eu não sei, somos apenas um pequeno grão de areia dentro de um pontinho azul flutuando na imensidade.

Para assistir ONLINE clique aqui,





sábado, 27 de dezembro de 2014

O Imoralista - André Gide

Meu Deus! Como resenhar um livro do Gide?
É quase impossível fazer isso sem bajular. Ele é simplesmente espetacular. É o tipo de autor que nasceu para a escrita, que nasceu com o dom.

"Saber se libertar não é nada... mais difícil é aprender a viver em liberdade"

Nesse livro  o tema é a busca pela felicidade. Através do olhar do personagem Miguel, que no início da história casa-se com Marcelina e juntos começam a correr a Europa. Pouco tempo depois ele se descobre doente, e essa proximidade com a morte faz despertar um novo homem, talvez um pouco mais egoísta, mas completamente focado em atingir a felicidade. Não de uma forma comum, a felicidade que o personagem busca é aquela vinculada à liberdade total: moral, física, psicológica, social...

"Miguel, voyeur de sua própria memória, renuncia a vida anterior, ajuda aqueles que o furtam, dispõe sua propriedade a venda e une-se a Marcelina, para satisfazer a vontade do pai moribundo, que de esposa, torna-se enfermeira. Arrependido, procura assumir seus encargos como marido, mas a tentação de liberdade é mais forte. Seu caminho passa a ser o de destruir, nunca o de usar a liberdade." Fonte: PCO.org
Imagem: anitanoalfarrabista.blogspot.com.br/

Essa postura é uma tentativa deliberada de ir contra o senso comum ou é um desejo pueril que insiste em atraír-se pelo que é errado? Penso que a postura do personagem talvez seja um reflexo das suas tendência homossexuais (o que fica levemente subtendido na trama). Talvez a culpa fizesse com que ele deseja-se se libertar ou então desgarrar-se de uma vez com os padrões morais (precisamos lembrar que essa história foi escrita em 1902).

Depois de um tempo Miguel e Marcelina decidem se assentar na fazenda da família, e esse contato com a natureza, simplesmente encanta Miguel. Quando eles precisam voltar à cidade, transcorrem alguns dos trechos mais interessantes do livro, na minha opinião. Miguel começa a narrar a sua ojeriza pelas pessoas comuns, pelo senso comum, pelo status quo. Ter que ficar entre tantas pessoas, falando de coisas banais, tentando impressionar, ser amável e simpático - mesmo quando já se está de saco cheio delas simplesmente enerva o cara. Como me identificar mais? Chega uma hora em que ele rompe com essa realidade e cai novamente na estrada com sua esposa. E obviamente toda essa mudança cobrará um preço alto de ambos no final da trama.

O mais interessante é que ele começa a menosprezar a própria fortuna, como se a riqueza fosse um impedimento à obtenção da felicidade. Um sentimento com o qual eu super me identifico. E antes que qualquer um comece a achar que eu ou o Gide somos malucos, leia o livro. Ele consegue exprimir isso muito melhor que eu. Mas tem algo a ver com o fato de que as coisas mais prazerosas são gratuitas (no sentido de que não se pode valorá-las) embora para desfrutá-las obviamente tenha que se ter dinheiro. Acompanha comigo: sexo, comer, dormir, conversar com os amigos, abraçar alguém que se ama, ir à praia.... Não é possível colocar um preço nessas coisas, e nem se pode comprá-las em alguma loja. Mas ao mesmo tempo não podemos desfrutá-las se não tivermos o mínimo de dinheiro para nos sustentarmos. Esse conflito fica claro na história de Gide. O personagem deixa claro que ao mesmo tempo que deseja esbanjar sua fortuna, também precisa dela para sustentar seu estilo de vida e sua mulher.

O final do livro é um tanto impactante, você fica com aquele alerta apitando na cabeça, tipo: Meu Deus, isso é a vida, são como as coisas acontecem!

Pelo que consegui ler no prefácio do livro, a história é um tanto biográfica, parece que certos aspectos da vida do autor estão embutidas na história, mas não tudo.

André Gide, seu gatinho!
O melhor dessa história eu não contei. Sabe como adquiri esse livro? Voltando do curso no sábado, passando pela praça XV, ele estava nada mais nada menos do que jogado no chão, lixo (provavelmente um resquício da feira que acontece toda manhã aos sábados no lugar) eu simplesmente abaixei e peguei - como quem pega uma fruta no pé - e devorei com todo o sabor e prazer que um livro tão gostoso pode proporcionar. Conseguem perceber como a vida é sensacional? Estava eu, vivenciando o mesmo que Miguel, antes mesmo de conhecê-lo. Provando ali, naquele momento, que a felicidade é mesmo gratuita. Só precisamos estar no lugar certo e manter os olhos abertos. E agarrar a oportunidade, sem vergonhas ou reservas. Pois a vida é nossa, é nosso o direito de vivê-la. Da melhor forma que nos aprouver. Definitivamente buscando a felicidade, sobre todas as coisas.


sábado, 20 de dezembro de 2014

The meaning of life (ou uma poesia estúpida em inglês)

The meaning of life?
Bukowski was right
We are in the wrong place
Brief lapses of time and space

We forgot who we are
Following order
Exploring others
I reached the border

I  am full.

With guilt
With madness
With anger
With pity

I feel the disaster coming
Like in the movies
Coming soon on your screen
Or god damn you tube

And we’ll watch sitting still, 
eatin’ popcorn and drinkin’ soda

What a hell is going on?

This game is no funny
Blowing my time to make them money
All this hysteria doesn’t thrill me
Dicks, money, lust aren’t my priority

Art, art, I need some in every day life
Fight club is a kind of flag I would rise
If you know what I mean
If you know what they mean

Alex DeLarge
Jack Torrance
Tyler Durden
Renton
Sal Paradise

Why  can I only spit this in  English?
Se eu não sei nem cozinhar arroz
Maybe this only proves how messed up I’m
Maybe this only proves how sold I was


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Filme: Lucy

Ontem assisti Lucy e posso dizer sem sombra de dúvida que esse foi o melhor filme que assisti nesse ano. Eu quero abraçar Luc Besson por ter feito essa obra-prima. Pelo trailer, achei que podia se um filme inteligente, mas parecia ter muita ação para tal. De toda forma decidi arriscar, porque adoro o trabalho da Scarlett Johansson (desde que ela fez aquela voz sexy-maravilhosa-envolvente em Her).



Bem, o filme não te dá tempo para relaxar, eu mal sentei na cadeira do cinema, e nos primeiros minutos de filme, a pobre coitada da Johasson já tinha visto um monte de gente morrer, já tinha aberto uma maleta sem saber o que tinha dentro e então tido a barriga aberta e despachada num avião como mula de drogas. Sim, o filme tem muita ação. Mas pela primeira vez não achei isso ruim ou cansativo, e principalmente não transformou a trama em uma coisa vazia. Pelo contrário, a ação ajuda a dar sentido à trama, que é simplesmente maravilhosa e inteligente. E ao mesmo tempo te mantém vidrado e preso à tela sem quase conseguir respirar.


E obviamente como feminista não posso negar que foi um orgulho ver uma mulher sendo não só a protagonista, como protagonista em um filme de ação, simplesmente botando para quebrar (literalmente!) sem sentimentalismo, sem choramingos, e melhor – sem nenhuma paixão boba para lhe desviar de seus objetivos.

Sabe, depois de assistir filmes como esses eu passo a ter mais esperança na igualdade entre os sexos no futuro. Obviamente que o filme não é perfeito nesse sentido: apesar de estar combatendo a máfia, a personagem ainda está com um vestido colado e saltos altíssimos, rola uma cena de beijo, e sim – a personagem só é forte, decidida, destemida, porque ingeriu uma quantidade absurda de drogas. Será que um dia serão capazes de retratar uma mulher que é foda, só porque é foda (claro que sim, pra isso existe a Uma Thurman em Kill Bill!) 


Cara, o que posso dizer é: assistam! Não tem como se arrepender. O enredo é perfeito, os efeitos especiais são estonteantes, a trilha sonora combina, as atuações são memoráveis. Além de ser muito, muito divertido ver a uma mulher derrubar um monte de caras só com um balançar de dedos.




sábado, 6 de setembro de 2014

Calvin sendo Calvin


Eu simplesmente amo as tirinhas do Calvin e Haroldo (Calvin & Hobbes). Elas são engraçadas, questionadoras e tão simples ao mesmo tempo. Queria muito ter alguns livros com elas, mas nunca esbarrei com nenhuma para comprar, no dia que eu achar vou tirar um monte de fotos para colocar aqui no blog.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Fome de Loba


Enrolei então os pulsos nas costas de sua camisa, puxei, mas parei quando o tecido começou a rasgar. Estava me preocupando demais, perdendo tempo demais com aquela camisa. Desloquei as mãos para a calça dele, puxei violentamente o zíper e toquei-lhe os quadris. Sempre me beijando, Clay tateou até pegar minhas mãos.

Pág 279, do livro 'Fome de Loba' de Kelley Armstrong



quinta-feira, 24 de julho de 2014

Isabela Freitas


do livro "Não se apega, não". 

A Mão e a Luva - Machado de Assis




A Mão e a Luva é um livro sobre a ambição. 

Sobre o caráter humano. 
Sobre pessoas que combinam e não.







Machado de Assis é conhecido pelo talento em retratar a sociedade e os costumes da sua época, assim como esmiuçar o componente humano. Ele analisa de forma sagaz as personalidades que cria e muita das vezes ironiza seus dilemas e agruras. Ler Machado, não deixa nunca de ser um mergulho no próprio ser humano em suas contradições, ambições, afetos, defeitos e qualidades. 

Ainda assim, quem costuma ler esse autor, sabe que suas narrativas não são muito dinâmicas. Seus livros giram em volta de um tema e sobre como os personagem reagem à ele. Não ha muita ação, o tempo parece passar devagar. Os personagens não são tantos, que dê para se perder nos nomes e nem tão poucos que tornem a coisa sem graça.


A Mão e a Luva, segundo romance do autor,publicado em 1874, trata basicamente do destino amoroso de Guiomar. Moça de belo dotes físico e posição social elevada, ela é cobiçada por três pretendentes: Jorge, Estevão e José Luís. A moça que possui uma personalidade racional, melindrosa, reservada e um tanto hostil, embora diplomática, refuta os dois primeiros pretendentes. O terceiro só aparece como pretendente um tempo depois. Estevão é o apaixonado, sofre de amores pela mulher desde tempos remotos. Jorge, é o oportunista vê na beleza da moça e no seu dote uma possibilidade de manter sua posição e prestígio social. José Luís é um advogado ainda mais racional que Guiomar, observador e bastante inteligente. O impasse para Guiomar é que um casamento com Jorge traria imensa alegria à sua tia, a baronesa, pelo qual Guiomar tem muito apreço. Mas ela não gosta do rapaz. E sobre isso a história se desenvolve. A curiosidade está em querer saber por quem Guiomar irá se apaixonar. Se ela fará a vontade da tia em detrimento à sua. E finalmente, com quem casará.


Depois de tudo isso, é engraçado eu admitir que não sou exatamente uma fã do autor. Realmente não sou, mas posso apontar cinco traços em seus livros que cativam:

1) A beleza da escrita clássica da língua portuguesa: frases como

“Estêvão, que adorava todos os roupões, fossem ou não meditativos, deu as graças à Providência, pela boa fortuna que lhe deparava, e afiou os olhos para contemplar aquela graciosa madrugadora.”   

“Não havia mister pôr de permeio um espírito importuno e desconsolador.” 

"Esta cingiu-lhe a cabeça com as mãos, e assim esteve longo tempo sem falar, mas eloqüente naquela mudez, em que a palavra pertencia ao coração."

Acho de uma riqueza fantástica, apesar de ninguém falar ou escrever mais assim. Se você não gosta desse tipo de escrita, então já tem 50% de chances de não gostar do livro. Se gosta já é um ponto à favor.

2) O talento para trabalhar as palavras: explorando metáforas e demais figuras de linguagens, Machado faz com que consigamos “visualizar” sentimentos e atmosferas. Sua capacidade descritiva para coisas intangíveis é brilhante. E deve-se admitir o quanto é difícil traduzir sentimentos em palavras.

3) A ironia: que nos arranca algumas gargalhadas durante a leitura. Ele zomba do dilema dos seus personagens com a educação de um gentleman. Se você estiver desatento, nem percebe o quanto ele pode ser sádico. É o beijinho-no-ombro clássico.

4) O eterno enigma das suas histórias: Ok, ele não é nenhuma Agatha Christie. Mas consegue quase sempre implantar a dúvida sobre como será o desfecho da história. E ele sabe nos prender nela. Porque as novelas do Machado, são fieis retratos do cotidiano, e como não se sentir curioso com o que a vida trará? Qual será a sorte dos personagens? O autor optará por um desfecho mais realista ou pelo final feliz? E assim somos levados até o final do livro.

5) A imparcialidade: Esse é um dos traços que mais gosto. Ele não costuma incitar a nossa preferência por nenhum personagem. Não há uma tentativa forçosa de convencimento. Não existe herói e vilão. Então a preferência se dá geralmente pela afinidade pessoal do leitor. Em contraposição, vocês já repararam como boa parte dos best-seller são narrado em primeira pessoa? E como isso dificilmente nos deixa margem para que afeiçoemos com outros personagens, que não o principal? Os livros do Machado por sua vez, estando em 3ª pessoa nos deixam mais abertos nessa predileção. Conseguimos considerar o ponto de vista de todos. E acho que isso nos ensina a sermos menos individualistas.

Posso dizer que o final desse livro é bem interessante! 

E aí, quem ficou interessado?


segunda-feira, 7 de julho de 2014

Regras do Jogo para homens que queiram amar mulheres - Gioconda Belli

(Gioconda Belli, tradução de Silvio Diogo)

I
O homem que me amar
deverá saber abrir as cortinas da pele,
encontrar a profundidade de meus olhos
e conhecer o que se aninha em mim,
a andorinha transparente da ternura.

II
O homem que me amar
não desejará possuir-me como uma mercadoria,
nem me exibir como troféu de caça,
saberá estar a meu lado
com o mesmo amor
com o qual estarei ao lado seu.

III
O amor do homem que me amar
será forte como as árvores de ceibo,
protetor e seguro como elas,
puro como uma manhã de dezembro.

IV
O homem que me amar
não duvidará de meu sorriso
nem temerá a abundância de meu cabelo,
respeitará a tristeza, o silêncio
e com carícias tocará meu ventre como violão
para que brotem música e alegria
do fundo de meu corpo.

V
O homem que me amar
poderá encontrar em mim
a rede onde descansar
do pesado fardo de suas preocupações,
a amiga com quem compartilhar seus íntimos segredos,
o lago onde flutuar
sem medo de que a âncora do compromisso
o impeça de voar quando queira ser pássaro.
de vir a ser pássaro.

VI
O homem que me amar
fará poesia com sua vida,
construindo cada dia
com o olhar posto no futuro.

VII
Acima de todas as coisas,
o homem que me amar
deverá amar o povo
não como uma palavra abstrata
tirada da manga,
mas como algo real, concreto,
a quem render homenagem com ações
e dar a vida, se necessário.

VIII
O homem que me amar
reconhecerá meu rosto na trincheira
joelhos no chão me amará
enquanto os dois disparam juntos
contra o inimigo.

IX
O amor de meu homem
não conhecerá o temor da entrega,
nem terá medo de se descobrir ante a magia da paixão
em uma praça cheia de multidões.
Poderá gritar - te amo -
ou colocar placas no alto dos edifícios
proclamando seu direito de sentir
o mais lindo e humano dos sentimentos.

X
O amor de meu homem
não fugirá das cozinhas,
nem das fraldas do filho,
será como um vento fresco
levando consigo, entre nuvens de sonho e de passado,
as fraquezas que, durante séculos, nos mantiveram separados
como seres de distintas estaturas.

XI
O amor de meu homem
não desejará rotular ou etiquetar,
me dará ar, espaço,
alimento para crescer e ser melhor,
como uma Revolução
que faz de cada dia
o começo de uma nova vitória.

Sobre a autora:

Gioconda Belli (Nicarágua, 1948) é uma das poetas nicaraguenses mais conhecidas dentro e fora de seu país. Ainda jovem se integrou às fileiras da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) na luta pela derrubada do governo ditatorial de Somoza. Foi correio clandestino, transportou armas, viajou pela Europa e América recolhendo recursos e divulgando a luta sandinista. E, claro, no meio de tudo isso, escrevia suas poesias. Com o triunfo da Revolução Nicaraguense, em 1979, ocupou vários cargos dentro do governo revolucionário. Com a posterior burocratização do partido no poder, Gioconda se afasta da FSLN e passa a criticar duramente seu “endireitamento”.

De início, a poesia de Belli, produzida no contexto da revolução nicaraguense, coloca grande ênfase na união dos nicaragüenses contra a tirania de Somoza, tratando o amor de um casal como metáfora da unidade sociopolítica e de gênero em oposição a tirania. Esse amor era "arma contra a opressão… o desejo dionisíaco que vence a morte, o desespero". Belli apresentava, então, a mulher como a entidade destinada principalmente a dar amor, associada com o sentimental e com o passivo. Ela era a natureza e a paisagem nicaragüenses, a terra que esperava ser possuída pelo amante-guerrilheiro (ativo, forte e que domina o espaço público), dicotomia de gênero própria do universo domina o espaço público), dicotomia de gênero própria do universo patriarcal.

Porém, Belli também já incluía em seus versos elementos inovadores da representação feminina, fissuras no discurso patriarcal que evidenciavam a negociação que a escritora fazia entre o tradicional e o novo.  Com a vitória da revolução nicaraguense, essas fissuras vão aos poucos crescendo e uma nova identidade feminina vai se assumindo como voz dominante em sua poética, ainda que com recaídas próprias das tensões com o velho discurso. Belli realiza uma corajosa autocrítica do eu-feminino, reconhece o excessivo idealismo com que encarava as relações amorosas, passa a questionar abertamente a submissão da mulher e a defender que esta possa estabelecer seus próprios limites, suas próprias regras, o que realmente quer ou não quer no amor.

Vista em sua totalidade, a poesia de Belli é um fantástico registro da trajetória do eu-feminino, com seus conflitos e contradições de identidade até uma consciência feminista. Um retrato bastante genuíno das latinoamericanas-lutadoras do século XX e começo do XXI, com seus acertos e também com sua incansável negociação com a opressão tradicional de nossa cultura machista e patriarcal.


sexta-feira, 4 de julho de 2014

Aprendendo a agregar palavras


Quem precisa de palavras rolando ao vento? Elas ficam muito melhores no papel, elas rolam ricas, graves, suaves e profundas dispostas em uma folha bem branca. Ao passo que parecem tão tolas, vazias e descabidas quando as profiro soltas e infindáveis no ar. Como se não houvesse nada de útil que eu pudesse dizer a quem se dispusesse à ouvir. O que eu preciso é de tempo para assentar elas bem juntas, de maneira correta, fazer as ligações e infundir algum sentido à todas essas letras agregadas como estátuas.

Ariana Mendonça

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Sobre o amor livre & Osho


Osho, líder espiritual indiano e filósofo, descreve com belas palavras, o que é o amor e as diversas fases que pode ter:

Existem três camadas no indivíduo humano: sua fisiologia, o corpo; sua psicologia, a mente; e seu ser, seu eu eterno. Amor pode existir em todos os três planos, mas suas qualidades serão diferentes.

No plano da fisiologia, do corpo, é simples sexualidade. Você pode chamar isso de amor, porque a palavra ‘amor’ parece ser poética, bela. Mas noventa e nove por cento das pessoas estão chamando o sexo delas de amor. Sexo é biológico, psicológico. Sua química, seus hormônios – tudo que é material está envolvido nisso.

Você se apaixona por um homem ou por uma mulher. Você pode descrever exatamente porque essa mulher lhe atraiu? Certamente você não pode ver o eu dela, você ainda nem viu seu próprio eu. Você também não pode ver a psicologia dela, porque para ler a mente de alguém não é uma tarefa fácil. Então o que é que você viu nessa mulher?

Alguma coisa na sua fisiologia, na sua química, nos seus hormônios, se sente atraído pelos hormônios, pela fisiologia, pela química da mulher. Isso não é um caso de amor; isso é um caso químico. Pense bem: a mulher por quem você se apaixonou vai ao médico, muda de sexo, deixa a barba e o bigode crescerem. Você ainda fica apaixonado por ela? Nada mudou, somente a química, os hormônios. Para onde foi seu amor?

(....)

O mais profundo amor do coração é somente como uma brisa que chega no seu quarto, traz sua frescura, serenidade, e então se vai. Você não pode segurar o vento em suas mãos. Bem poucas pessoas são tão corajosas para viver de momento a momento, uma vida mutante. Daí, elas decidirem se entregarem a um amor do qual elas possam depender.

Eu não sei que tipo de amor você conhece – muito provavelmente o primeiro tipo, talvez, o segundo tipo. E você teme que se você alcançar seu ser, o que acontecerá ao seu amor? Certamente ele se vai – mas você não será um perdedor. Um novo tipo de amor irá surgir o qual, talvez, só acontece a uma pessoa em milhões. Esse amor só pode ser chamado de amorosidade.

O primeiro amor deve ser chamado de sexo. O segundo amor deve ser chamado de amor. O terceiro deve ser chamado de amorosidade – uma qualidade, não direcionada – não possessiva e que não permite ninguém mais lhe possuir. Essa qualidade amorosa é uma revolução tão radical que mesmo concebê-la é muito difícil.

Jornalistas têm me perguntado: “Por que tem tantas mulheres aqui?”. Obviamente, a questão é relevante, e eles ficam chocados quando lhes respondo. Eles não estavam preparados para a resposta. Eu disse a eles: “Sou um homem”. Eles olharam para mim, incrédulos.

Eu disse: “É natural que muito mais mulheres estejam aqui, pela simples razão de que tudo que elas conheceram na vida delas foi sexo, ou em raros casos, talvez alguns momentos de amor. Mas elas nunca chegaram a conhecer o sabor da amorosidade”. Eu disse para esses jornalistas: “Mesmo os homens que vocês vêem aqui desenvolveram muitas qualidades femininas neles que estavam reprimidas pela sociedade exterior”.

Desde o princípio é dito a um menino: “Você é um menino, não uma menina. Comporte-se como um menino! Lágrimas caem bem numa menina, mas não para você. Seja macho”. Assim todo menino vai eliminando suas qualidades femininas. E tudo que é belo é feminino.Então finalmente o que resta é somente um animal selvagem. Toda a função dele é reproduzir filhos.

A menina não é permitida ter qualquer coisa com qualidades masculinas. Se ela quiser subir numa árvore ela será impedida imediatamente: “Isso é para meninos, não para meninas!” Estranho! Se a menina possui o desejo de subir na árvore, isso é prova suficiente para ela ter permissão.

Todas as sociedades criaram roupas diferentes para os homens e para as mulheres. Isso não está certo; porque todo homem é também uma mulher. Ele veio de duas fontes: o pai e a mãe. Ambos contribuíram para seu ser. E toda mulher é também um homem. Nós destruímos ambos.

A mulher perdeu toda a coragem, aventura, raciocínio, lógica, porque essas são tidas como qualidades masculinas. E o homem perdeu a graça, sensibilidade, delicadeza. Ambos se tornaram metades. Esse é um dos maiores problemas que temos que resolver – pelo menos para nosso povo. 

Meus sannyasins precisam ser ambos: metade homem, metade mulher. Isso os tornará mais ricos. Eles irão ter todas as qualidades que estão disponíveis aos seres humanos, não apenas a metade.

No nível do ser, você simplesmente tem uma fragrância de amorosidade.

Os jornalistas me perguntaram: “Você ama Sheela?”. Eu disse: “É claro. Mas eu amo tantas mulheres que nem mesmo sei o nome delas. E não somente mulheres – amo tantos homens, porque eles também são metade mulher”. Em um milhão de sannyasins ao redor do mundo, eu não posso apontar para uma só pessoa e dizer: “Essa é a pessoa que amo”.

Só posso dizer: “Eu amo”. Quem quer que esteja pronto para receber meu amor… está disponível. Então não tenham receio.

Seu medo está certo: o que você tem como amor irá embora, mas o que virá no lugar é imenso, infinito. Você será capaz de amar sem ficar apegado. Você será capaz de amar muitas pessoas porque amar uma pessoa só é manter a si mesmo pobre. Uma pessoa pode dar uma certa experiência de amor, mas amar muitas pessoas…

Você ficará surpreso que cada pessoa lhe dá um novo sentimento, uma nova canção, um novo êxtase.Consequentemente, sou contra o casamento. Na minha visão, casamentos na comuna devem ser dissolvidos. Pessoas podem viver juntas por toda a vida se quiserem, mas isso não é uma necessidade legal.

Pessoas devem se movimentar, ter tantas experiências de amor quanto possível. Não devem ser possessivos. Possessividade destrói o amor. E eles não devem ser possessivos porque isso novamente destrói ser amor.

Todos os seres humanos são dignos de serem amados. Não há nenhuma necessidade de ficar acorrentado a uma pessoa por toda sua vida. Essa é uma das razões do porquê todas as pessoas ao redor do mundo parecem tão entediadas.

Porque elas não podem sorrir como você? Porque elas não podem dançar como você? Elas estão acorrentadas com correntes invisíveis: casamento, família, marido, esposa, filhos. Elas estão sobrecarregadas com todo tipo de deveres, responsabilidades, sacrifícios. E você quer que eles sorriam e dancem e se alegrem? Você está pedindo o impossível.

"Não há maior ecstasy do que saber quem você é."

Torne o amor das pessoas livre, torne as pessoas não-possessivas. Mas isso só pode acontecer se na sua meditação você descobrir o seu ser. Não é nada para se praticar. Não estou lhes dizendo: “Hoje à noite você procure uma outra mulher apenas para praticar”. Você não irá conseguir coisa alguma e você pode perder sua esposa. E pela manhã você vai parecer tolo.

Isso não é uma questão de praticar, é uma questão de descobrir o seu ser. A qualidade da amorosidade impessoal segue a descoberta de seu ser. Assim você simplesmente ama.

E isso vai se espalhando. Primeiro, nos seres humanos, depois nos animais, pássaros, árvores, montanhas, estrelas. Um dia chega quando todo esse universo é seu amado. Esse é o nosso potencial. E qualquer um que não estiver realizando isso está desperdiçando sua vida.

Sim, você terá que perder algumas coisas, mas são coisas sem valor. Você estará ganhando tanto que você nunca pensará novamente no que você perdeu. Uma pura amorosidade impessoal que possa penetrar no ser de qualquer um – esse é o resultado da meditação, do silêncio, do mergulhar profundo dentro de seu próprio ser. Estou simplesmente tentando lhe persuadir. Não tenha medo de perder o que você tem.



domingo, 29 de junho de 2014

Garota Interrompida - Susanna Kaysen



Garota interrompida narra o período de internação de uma adolescente de 18 anos, chamada Susanna, em uma clínica psiquiátrica. Após uma tentativa de suicídio e de um crescente desgosto pela vida, a menina se interna voluntariamente, onde permanece por 2 anos. A história é verídica e contada a partir do ponto de vista da própria autora, mas ao longo da narrativa foram anexadas fichas e relatórios médicos analisando a evolução da paciente.


A primeira parte do livro trata da experiência de Susanna no hospital, como eram as instalações, as outras pacientes, as enfermeiras, sua rotina, suas crises e os motivos que a levaram a estar ali. A segunda parte, trata da sua vida após o diagnóstico e da alta, sua análise sobre a loucura e o peso que essa sombra do passado causam em seus dias atuais.

Muitos de vocês podem ter visto o filme que tem Angelina Jolie no papel de Lisa e Winona Ryder no papel de Susanna. Pelo pouco que me lembro do filme, acho que é bem diferente do livro.



Comentários

Minha análise sobre a obra é que ela é mediana. Não é um livro difícil de ler e o tema é interessante. Entretanto, é uma narrativa simples, sem grandes surpresas. Eu imaginei que fosse ser muito mais marcante e dramático, mas na verdade a leitura é bem leve. Eu li em 4 dias, parte no celular, parte no pc e foi bem tranquilo. Penso, que por ser tão honesto como retrato da realidade, ele não pôde ser mais. Porque a vida da gente é assim mesmo, quando colocada cruamente em palavras, não soa grande coisa. Ou então a autora não soube trabalhar bem todo o potencial e força da sua história pessoal.

Mas, curiosamente, o livro começa a ficar mais interessante do meio para o final, ou seja, após a saída de Susanna da clínica. É o momento onde a narração cede espaço ao fluxo de pensamento, e em que a autora debate a questão da loucura, da psicanálise, do preconceito. É nessa hora que ela suscita algumas perguntas: o que de fato é a loucura? Tem cura? Eu posso ser tida como louca em algum momento? Até onde vai o poder da ciência para diagnosticar ou curar alguém? Qual a diferença entre cerébro e mente?

Eu terminei o livro bem contente e pensativa. O que me deixou feliz. Aliais, ao contrário do que possa parecer o livro não é triste. Até porque as personagem são bem descontraídas e irônicas. Eu recomendaria a leitura para as férias, ou para uma viagem chata para a casa do tio-avô. Sabe, aqueles momentos em que você tem tempo de sobra e espaço para pensar e disponibilidade para sorrir sem ninguém por perto.

O mais importante é que yeah! Meu readers block está passando. Já estou ingressando em outro livro do Machado de Assis. Depois conto para vocês como foi!



sexta-feira, 27 de junho de 2014

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